Segunda parte da entrevista de Slash à revista Rolling Stone Brasil:
Você começou achando que queria tocar baixo. O que aconteceu?
Fui a uma escola de música do bairro. Cheguei para o professor e disse: “Quero aprender a tocar baixo”. E ele perguntou: “Você tem um baixo?”. “Hum, não” [risos]. Então o professor começou a me fazer perguntas para descobrir com quem estava lidando. Enquanto conversávamos, ele estava com um violão com cordas de aço e ficou tirando umas notas da musica que saía do aparelho de som – acho que era “Sunshine of Your Love” ou “Spoonful”, coisas do Cream, e eram as partes do solo. Eu disse que era aquilo que eu queria fazer, e ele explicou que aquilo não era baixo, era “a guitarra solo”. Então, minhas perspectivas de tocar o baixo tiveram vida curta. Isso dá uma idéia de como eu era ignorante quando cheguei naquela escola.
Você disse que o livro How to Play Rock Guitar (Como tocar guitarra de rock) mudou a sua vida. Ainda tem o exemplar?
Houve um ponto em que todos os meus bens terrenos se reduziram a um baú, e o livro estava lá. Mas, ao longo dos anos, o baú passou por tantas salas e garagens que eu acabei perdendo tudo. Eu tinha mencionado em uma entrevista, e é um título tão inócuo , não sei como alguém poderia pensar que conhecia esse livro, mas um fã apareceu em um show e me deu a porra do livro [risos]. Foi inacreditável. Foi um momento marcante, porque fazia tantos anos que eu não via aquele livro, e realmente era a origem do meu aprendizado de qualquer coisa técnica sobre guitarra solo. Ele me deu o livro que eu consegui perder de novo, e daí ele apareceu um ano depois e me deu outro [risos]! Esse eu consegui guardar.
Você passou o livro para seus filhos?
Não. Agora eles estão muito envolvidos com o futebol americano. Com o mais velho, é quase só esporte. O mais novo estava tocando piano de ouvido até arrumarmos uma aula para ele, e isso o desmotivou. Foi o que aconteceu comigo quando eu era pequeno: minha mãe tentou me fazer ter aula de piano e eu detestei, e não toquei mais o instrumento desde então.
A guitarra fez com que você ficasse mais focado quando era adolescente?
Na época, eu não tinha praticamente nenhum foco, só me interessava por BMX [bicicross]. Eu queria ser corredor. Sempre desenhei, era um artista, mas só fazia isso por diversão. Quando comecei a participar das corridas, percebi que tinha uma espécie de objetivo [risos]. Mas, quando peguei a guitarra, acho que a capacidade de me concentrar ao extremo de repente se apresentou.
O que seus boletins escolares dizem sobre você?
Eu tinha problemas na escola, porque estava em um planeta diferente do de todas as outras pessoas. Se eu gostasse do professor e achasse as coisas interessantes, era capaz de ir bem de verdade, e , se achasse o professor ou a matéria uma bosta, então não me esforçava nada. Eu era bom de verdade em arte, em inglês e às vezes em historia, dependendo do que estávamos estudando. Nunca fui bom em matemática. Eu realmente caminhei no meu próprio ritmo durante todo o tempo na escola. E freqüentei muitas escolas diferentes. Por isso nunca realmente me encaixei.
Os seus pais se preocupavam?
Minha mãe, sim [risos]! Minha mãe, que deus a tenha, ela realmente tentou fazer com que eu ficasse na escola e tivesse uma boa educação. Mas, quando a guitarra apareceu, o trabalho dela ficou muito mais difícil, porque eu parei de me preocupar em me encaixar em qualquer coisa e me tornei simplesmente muito mais insular, de modo que as regras realmente não importavam mais. Acabei largando a escola no 2º ano [do equivalente ao antigo ensino médio].
Você foi criado ao redor de gente famosa. Será que isso lhe deu um mecanismo para lidar com a fama?
A única coisa que eu retive daquilo tudo foi uma certa ideia de como não agir [risos]. Eu sempre detestei estar por perto de artistas que eram rudes ou desrespeitosos com as pessoas ou que tinham uma noção distorcida em relação a seus direitos, achando que eram o centro das atenções o tempo todo. Eu detestava isso quando era menino. Ainda detesto. Mas fui criado em volta de artistas brilhantes, gente que eu admirava. Eu adorava a Joni Mitchell quando era pequeno. Passávamos muito tempo com ela. Minnie Riperton era ótima. Então você assimila coisas das pessoas de quem gosta e aprende a respeito daquilo de que realmente não gosta e isso fica com você.
Houve um momento em que você se deu conta de que era famoso?
Não. Na verdade, não. Eu nunca ansiei por essa coisa de ser um cara famoso, nem pelas coisas que vem junto – as pessoas me servirem, ser reconhecido o tempo todo, comprar jóias caras, carrões e ter uma gostosa em cada braço, essa ilusão toda. Quando chegou o momento em que eu finalmente alcancei aquele ponto em que o Guns N’ Roses era grande de verdade e realmente conhecido só comecei a usar muita droga e me esconder. Eu detestava aquilo. Nunca aceitei de fato a fama do jeito que uma boa parte da mulecada aceita hoje, que é a razão pela qual fazem música.
O que você buscava nas drogas naquela época? Abrigo?
Por causa do ambiente em que eu fui criado, o uso de drogas era bem aberto. Não era nada de mais. Por isso, as drogas sempre foram recreativas. Você e drogava para se divertir e pronto. Não havia nenhuma droga especifica que eu adorasse de verdade, a não ser bebida. Mas quando fui apresentado à heroína, foi a melhor merda de todos os tempos. Passei um bom tempo usando simplesmente porque gostava. Não sei o que estava mascarando nas minhas próprias questões pessoais. Mas daí teve um período em que aquela droga especifica se transformou em uma muleta tão enorme que na verdade não deu para ver a transição entre ser uma diversão e se transformar em uma dependência. Em algum lugar, havia muitas questões pessoais que eu estava maquiando, que eu não teria como identificar na época. Não sou uma pessoa que busca atividades sociais, nem estar com muita gente. E, no negocio da musica, quando você se expõe daquele jeito… A bebida e as drogas eram para mim a melhor maneira de lidar com o fato de estar naquela situação.
Aos 27 anos, você sofreu uma overdose e o seu coração parou por oito minutos. Na sua autobiografia, você disse que ficou puto da vida com isso. Isso parece uma reação fora do comum: não se sentiu agradecido por não ter morrido, só aborrecido por ter tido uma overdose. Pode explicar essa reação?
Aborrecido, essa é a maneira interessante de colocar as coisas. Você geralmente fica puto da vida por ter tido uma overdose simplesmente porque é uma coisa ridícula de se fazer. Não tem nada de bom em ter uma overdose [risos]. Simples assim. Não consigo pensar em nenhuma razão que seja muito mais complicada do que isso. É a máxima perda do controle quando você literalmente morre no chão da sala de alguém e precisa ser ressuscitado. E realmente é inconveniente ter que chamar a emergência.
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Retirado de: Revista Rolling Stone Brasil
Publicado por: Axl Rose – Fã Clube
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