Em Maio de 1988, o Guns N’ Roses começava a despontar no cenário do Rock Mundial, com seu disco Appetite For Destruction ganhando cada vez mais popularidade e alcançando o 7 lugar da Billboard e sendo certificado como “Disco de Ouro”, e a banda estava em turnê conjunta com o Iron Maiden no Canadá, como banda de abertura dos mesmos.
Contudo, em 8 de Junho de 1988, a turnê deve de ser subitamente cancelada, pois Axl Rose havia danificado severamente sua voz ao cantar“It Tastes Good, Don’t It?” no show anterior, E o L.A Guns teve de ser chamado as pressas para substituir o GN’R como banda de abertura.
Nessa entrevista (Inédita em português) concedida para a Revista BLAST! em Novembro de 1988, Axl Rose discorre sobre os motivos do cancelamento da turnê com o Iron Maiden e o que havia acontecido com sua voz.
“BLAST!: Você poderia nos dar uma breve explicação do que aconteceu com sua voz, e por que o Guns N’ Roses teve que cancelar a turnê do Iron Maiden e, posteriormente, a turnê japonesa?
AXL: Bem, basicamente, viajar subindo montanhas diversas e diversas vezes para chegar aos últimos cinco shows que fizemos com o Iron Maiden, fizeram com que meus ouvidos entupissem de tal forma que eu não conseguia ouvir direito, então eu acabava gritando duas vezes mais alto e sobrecarregando minhas cordas vocais na turnê.
Além disso, nos shows que fizemos na Costa Oeste, haviam muito mais fãs do GNR, e foi tudo muito agitado e muito mais divertido, então estávamos tocando duas vezes mais alto, quebrando tudo no palco.
Basicamente, eu usei demais minha garganta, e o médico me disse que se eu não tirasse uma folga, havia uma boa chance de eu nunca mais cantar! Fui a quatro especialistas diferentes, e todos eles me disseram que eu precisava de uma cirurgia imediatamente; Então, fui ao maior especialista do mundo, que trata problemas graves de garganta como eu tinha – um cara chamado Hans Von Laiden, e ele disse que eu não precisava de cirurgia, mas o que eu precisava era de muito descanso vocal e, em seguida, um treinamento adequado para poder trazer a voz de volta.
Então, ao invés de correr o risco de ir ao Japão e não poder fazer um bom show, ou fazer algo meia boca, sem garantias que conseguiríamos fazer todas as datas que prometemos, achamos melhor adiar e fazer os shows mais tarde, quando poderíamos dar às pessoas exatamente o que elas pagaram.
Nós nunca cancelamos um show só porque não queremos, particularmente, faze-lo. Esse não é o motivo.
Acredito que, quando as pessoas pagam dinheiro para ver um show, devem receber exatamente aquilo pelo que pagaram e por tudo aquilo que vieram ver, e a menos que possamos fazer isso, não queremos fazer nenhum show.
Agora, a turnê japonesa está provisoriamente planejada para dezembro (de 1988) porque nós realmente queremos ir ao Japão. É um objetivo importante, vitalício, e estamos fazendo tudo o que podemos fazer para chegar lá. Fizemos uma turnê com o Aerosmith por dois meses, de 15 de julho a 15 de setembro, e também fizemos alguns shows aqui e ali entre esses, e vamos entrar em estúdio para trabalhar em um novo álbum.
Estaremos entrando em pré-produção, e então, talvez antes de gravarmos, iremos tocar no Japão. Também devemos relançar o EP Live ?!*@ Like A Suicide, e lançar o novo EP do Guns N’ Roses “Lies, Sex, Drugs and Violence: The Shocking Truth” esperançosamente por volta de dezembro ou janeiro, e é Isso é o que está acontecendo.
BLAST!: Você disse que fez alguns shows de aquecimento (no Arizona). Isso foi para se preparar para a turnê com o Aerosmith, ou apenas porque você teve que cancelar as datas lá antes?
AXL: Em Phoenix, foram as duas coisas […] Quando tocamos lá com o The Cult, eles cancelaram os shows, e íamos acabar tocando em um lugar muito pequeno, e como já tínhamos feito uma certa quantidade de shows seguidos, minha voz estava um lixo.
Com o jeito que eu canto, eu uso muitas dinâmicas, muitos sons estranhos que se você fizer por um longo período de tempo, é muito prejudicial para sua garganta. Não é como o Bruce Dickinson do Iron Maiden; Ele canta de uma certa maneira, e canta dessa maneira na maioria das vezes, e isso não danifica sua garganta.
Alguns dos gritos e os tipos de coisas que eu faço são muito prejudiciais, então você só pode fazer, tipo, dois shows seguidos.
Para fazer shows realmente bons, então você precisa de um tempo de descanso.
Aprendi isso conversando com o Steven Tyler do Aerosmith. Ele não gosta de fazer mais de dois shows seguidos por causa do jeito que ele canta. É prejudicial para ele, e ele não consegue atingir as notas altas, e sente que não está dando ao público o que eles pagaram.
Voltando aos shows em Phoenix… Cancelamos nosso último show lá porque eu estava atrasado, e a banda achou que eu não ia aparecer, e quando cheguei lá, eles já tinham cancelado o show, achando que eu não ia aparecer.
Então, queríamos voltar e fazer as pazes com os fãs e as pessoas de lá, e o dinheiro desses shows foi revertido para instituições de caridade. Fizemos uma caridade, porque sentimos que era um dos jeitos de mostrar que estávamos tentando consertar as coisas.
Um dos promotores envolvidos (nos shows) tinha um filho que morreu, acredito, de leucemia, e achamos que seria uma boa escolha porque : 1. Ele era o promotor que trabalhava dos shows de Phoenix, e 2. Não tinha nada a ver com dinheiro entrando em seu bolso, mas tinha a ver com uma causa na qual ele acredita, e também é uma causa em que qualquer um deveria acreditar.
Esses shows também foram para se aquecer para a turnê do Aerosmith, e para se acostumar a tocar ao vivo novamente para que, quando saíssemos em turnê com o Aerosmith, teríamos alguns shows a mais em nosso currículo. Eu não tinha ideia do que esperar dos shows de Phoenix, Arizona, mas eu esperava que eles não fossem do tipo smash-crash-boom, pelo menos, não da minha parte. Eu só ia tentar ir com calma e tentar me divertir. Eu dei tudo o que tenho. Foi basicamente para recuperar a sensação das coisas e tocar algumas músicas novas na frente
BLAST!: Você tem que trabalhar com um Professor de Canto para ver se pode fazer algo diferente?
AXL: Eu trabalho com um cara chamado Ron Anderson, e trabalho com Ron desde que assinamos (com a gravadora) Trabalhei com uma mulher, Gloria Bennett, por um tempo, e depois trabalhei com Ron Anderson, e ele é muito, muito bom. Eu não o visito há algum tempo, e eu não treino, tipo, “como cantar as músicas” ou “as melodias” ou “as palavras”, ou qualquer coisa assim.
Eu só trabalho principalmente no controle muscular da minha garganta, e outras coisas. Já que, se não é algo que você tem costume de fazer continuamente, sua mente se esquece de como fazer, e então você vai lá … no seu quarto ou quinto show, depois de dirigir subindo e descendo pelas montanhas… Você não consegue se ouvir bem, os monitores não são tão bons, e você apenas grita alto, e esquece como você deveria cantar, porque você não está acostumado a fazer isso. E é isso.
Nos Vemos em breve, Japão! Essa frase é clichê agora, mas realmente queremos isso!