No ano novo de 2001, o Guns N’ Roses realizou o seu primeiro show em oito anos, no House of Blues de Las Vegas. Duas semanas depois, eles se apresentaram no Rock in Rio III.
O roadie Joel Miller (Stone Temple Pilots, Poison e Cranberries) estava com a banda nestas ocasiões e contou, no seu livro recém lançado, “Memoir Of A Roadie”, alguns episódios envolvendo Axl Rose e ele.
No dia 27, todos voltaram para o estúdio de ensaio. Tivemos que nos preparar para o show de Ano Novo em Las Vegas. Todos estavam nervosos, incluindo os caras da banda.
Naquela noite, ouvi pela primeira vez as canções Silkworms e Madagascar. Achei Madagascar uma música incrível. Eu não imaginava que o Axl sabia tocar guitarra. Com a guitarra na mão, ele mostrou aos caras algo que ele queria fazer ao vivo. Fiquei impressionado. Percebendo minha ignorância, disse silenciosamente: “É óbvio que ele sabe tocar guitarra”. Porém, quantas pessoas já viram Axl com uma guitarra presa no ombro em um estúdio de ensaio?
GN’R era uma daquelas bandas que tinha uma equipe bem grande. Cesar estava tentando cortar despesas e se livrar do maior número de pessoas possível. Por exemplo, tinha um cara que voou para o Rio conosco só para fazer chá para o Axl. Seu único trabalho era ser o cara que faz chá. No entanto, naquela noite, por algum motivo, ele não conseguiu fazer isso e fui designado para preparar o chá do Axl. Eu estava bem com isso; Achei que seria uma boa maneira de conhecê-lo melhor e talvez não fosse demitido novamente.
Naquela noite, Axl e eu tivemos nossa primeira conversa.
“Caramba. Você faz uma boa xícara de chá ”, ele disse.
“Obrigado, cara”, respondi.
Perguntei se ele queria mais, mas ele negou. Essa foi a nossa conversa. Acabou sendo tão profundo e significativo que resolvi mencioná-lo no título do meu livro.
Nos dias seguintes, fui, na maior parte, o único da equipe no estúdio. Eu passava cerca de 20 horas por dia lá. Eu tirava cochilos no sofá quando necessário. Todo mundo estava passando um tempo com suas famílias no Natal. Se alguma coisa precisasse ser feita nesse meio tempo, eu seria o cara que resolveria para eles.
Em um desses dias, quando estava tudo muito calmo, Axl apareceu inesperadamente com a sua assistente, o filho dela, e acho que o seu jardineiro. Eu estava no andar de cima com o Buckethead, o único outro cara lá na época. Eu estava escolhendo umas músicas pesadas pra ver se Buckethead sabia como tocá-las. Até então, não tinha conhecido ele muito bem.
Quando Axl chegou, eu rapidamente desci as escadas, pra caso ele precisasse de alguma coisa. Buckethead ficou quieto no sofá do andar de cima.
“Oh, ei cara, como vai?” disse Axl.
“Bem, precisa de alguma coisa?” Eu perguntei.
“Não, tá tudo bem”, ele respondeu.
Foi mais uma conversa profunda entre nós dois. Nossa relação estava se construindo tão rápido! A conversa sobre o chá tinha sido há alguns dias antes.
Ele se sentou ao piano, e pouco depois começou a tocar November Rain. Eu não fazia ideia do porque ele tinha decidido ir ao estúdio ou tocar a música, mas foi incrível. Eu assisti com admiração, saboreando o momento.
Quando a música terminou, o telefone tocou. Atendi e era o Cesar na linha. – Ei, Rif, liguei para saber se você ainda estava ai. Vá para casa e durma um pouco. Vou entrar e teremos uma longa noite. Vamos passar a noite toda.”
“Axl está aqui”, eu disse calmamente pelo telefone.
“É mesmo? O que ele está fazendo aí?”, Cesar perguntou.
“Ele está tocando November Rain para o jardineiro dele”, eu disse.