Fim dos anos 80. O Rock frouxo e a dance music dominavam a cena e o metal rendia-se a farofa. Até que, do submundo de Los Angeles, surgiu o Guns N’ Rose. Cinco cabeludos mal encarados que souberam como ninguém injetar um pouco de fúria nas veias do velho Rock N’ Roll com seu primeiro disco, “Appetite For Destruction” de 1987.
A música de Axl Rose, Slash, Izzy Stradlin, Duff Mckagan e Steven Adler tinha peso e as letras abordavam o universo de farras e loucuras do quinteto. Axl falava de amor e ódio com conhecimento de causa e seu vocal rasgando, comparado ao de Janis Joplin, caía como uma luva naquele repertório.
Acontece que o caminho de um grupo polêmico como o Guns N’ Roses não poderia ter sido repleto apenas de rosas. Para ilustrar o turbilhão que conduziu a carreira da banda, escândalos e mais escândalos, manchetes bombásticas sobre brigas, porres e tudo o que não faltaria no currículo de um autêntico grupo do Rock, ainda mais vulto do Guns. Os chiliques do astro-rei contrariavam seus súditos e quando, a lavação de roupa suja ultrapassou os bastidores, começaram a rolar mudanças na formação do
grupo.
A primeira baixa foi o baterista Steven Adler. Depois que Axl declarou, em um show com os Rolling Stones, em Los Angeles, que a banda acabaria por que seus integrantes estavam “dançando com Mr. Brownstone” (referindo-se ao uso desenfreado da heroína), Adler foi expulso do Guns por pegar pesado demais com as drogas, prejudicando o grupo. Matt Sorum, do Cult, assumiu as baquetas com excelência e garantiu a conclusão da arrastada gravação de “Use Your Illusion I e II”.
O intervalo entre “Appetite For Destruction” e o segundo disco do grupo foi uma verdadeira novela. Violência física e verbal permeavam as apresentações da banda e a vida pessoal do ídolo Axl ganhava tons dramáticos. O problemático vocalista descarregava – nos colegas de grupo, no público, na vizinha e em quem cruzasse seu caminho – todos os seus recalques por ter sido violentado sexualmente na infância e espancado pelo padrasto, que era protestante linha-dura.
Farto de ser julgado pelo seus atos, o roqueiro solveu pôr sua mão na consciência e fazer algo para melhorar. Foi então que embarcou numa terapia intensa. “Sei que as pessoas ficam confusas com algumas coisas que faço, mas eu também”, declarou o astro. Acusado de ser bêbado, drogado, vagabundo, Axl insistia em posar de inocente e de vítima do sistema, mas sempre ressaltando que tudo já estava superado em sua vida. Recuperado pela psicoterapia, ele continuava a fumar maconha e beber moderadamente e tinha aprendido a controlar seus impulsos agressivos. Segundo o vocalista, o remédio foi lidar com certas paranoias que atormentavam desde criança.
Boatos sobre a morte do líder do Guns e do guitarrista Slash por overdose ou suicídio eram constantes a cada exílio proposital de Rose. “Estamos numa corda bamba. Isso assusta as pessoas. Acho que esses rumores significam que a banda representa muito para muitas pessoas e que somos, tão importantes que as perturbaria bastante se não estivéssemos mais aqui”, disse Axl Rose.
Depois de “Appetite For Destruction” e “GN’R Lies”, o grupo trancou-se no estúdio para preparar sua nova investida. Foi um verdadeiro parto: do último show da turnê de 1988, quando o Guns abriu o show do Aerosmith na Califórnia, até maio de 1991, quando o tão esperado disco finalmente apareceu. Foram necessários dois volumes para acomodar as 36 músicas que a banda gravou em 18 meses, com uma superprodução.
O “Use Your Illusion” não era só um disco, era o resultado de uma verdadeira batalha travada internamente pelo grupo para finalizar o trabalho tantas vezes abandonado por conta da inconstância do baterista Steven Adler (justificação da banda). Os álbuns saíram do forno direto para as prateleiras da Tower Records, em Nova York. O lançamento levou uma multidão de fãs para as portas da loja na Broadway. Em duas horas, 150 cópias dos dois álbuns novos do Guns foram vendidas, mais de uma por minuto.
Assim também em mil pontos de venda espalhados pelos Estados Unidos.
Axl Rose e sua trupe estavam na estrada mais uma vez para promover o novo trabalho, do qual já haviam dado uma palhinha no Rock in Rio II. A turnê começou no dia 19 de Maio de 1991, no auditório Alpine Valley, nos Estados Unidos. Depois de cruzar o país, partiram para a Austrália, Europa e Japão. “Use Your Illusion” ganhou o mundo e veio parar na América Latina, deixando o Brasil para o fim da estrondosa turnê.
A segunda mudança da formação original do grupo chegou a ser considerada uma tacada promocional incluída no pacote de divulgação do novo álbum, mas não foi. O guitarrista e parceiro de Axl nas composições, Izzy Stradlin, já vinha se mantendo distante dos outros membros da banda durante a gravação do sucessor do “Appetite For Destruction”. Na última turnê do Guns antes de “Use Your Illusion”, Izzy viajava em um avião separado dos demais. Não compareceu à gravação do clipe de “Don’t Cry” e também ficou fora da cena final do clipe de You Could Be Mine”, na qual o grupo aparece em peso sob a mira do Exterminador do Futuro.
Crente de sua importância no Guns, Stradlin começou a fazer exigências para ficar. A situação tornou-se insustentável até que o guitarrista saiu – ou foi saído. “Eu me sinto como se ele tivesse cagado em cima de mim. Limpei a sujeira e ainda não me recuperei disso. Por um tempo pensei que Izzy quisesse ser mais independente, mas o Guns decolou rápido e ele fazia, tão parte disso que foi duro tomar uma decisão”, disse Axl,atribuindo a saída do guitarrista essencialmente à sua dificuldade de se socializar. Na época, Axl contou que Izzy também bancou o traidor, tentando jogar os outros companheiros contra ele.
O quinteto logo se recompôs com Gilby Clarke na guitarra e acrescentou os teclados de Dizzy Reed. No palco, a banda ganhou ainda mais integrantes com cinco backing vocals, mas o Guns era, basicamente, Axl, Slash e Duff. O quarto álbum do grupo, “The Spaghetti Incident?”, de 1993, foi uma tentativa de repetir a receita de sucesso de “Appetite For Destruction”. As músicas tinham uma pegada mais forte nos covers punks. Mas a inclusão de uma canção do assassino psicopata Charles Manson não agradou.
“Look At Your Game, Girl” ficou na mira dos grupos de defesa dos direitos humanos nos Estados Unidos. A polêmica se sustentava, principalmente, nos 60 milhões de dólares de cada milhão de discos vendidos que Manson receberia por direito. Para desfazer a trapalhada, o Guns doou os royalities que seriam do assassino preso para o Doris Tate Crime Victims Bureau, entidade organizada pela mãe da atriz Sharon Tate e outros familiares das vítimas de Manson.
Em Novembro de 1996 vinha a confirmação de um fato que detonaria o futuro próximo do Guns: o guitarrista Slash abandona o barco. Apesar de terem noticiado uma separação cordial, houve choro e ranger de dentes. Isso pode ser constatado mais tarde, quando ambos voltaram a falar no assunto. O clima era de dissolução e a banda não gravava nada há três anos. Até rolou uma tentativa, mas Axl e Slash não chegavam a um acordo e não havia outra saída a não ser cada um ir para um lado. “Não está descartada uma
colaboração no futuro. Mas, atualmente, as diferenças entre os dois são muito grandes para que ambos continuem trabalhando juntos”, afirmou a gravadora em nota distribuída á imprensa na época.
Slash mergulhou de cabeça no Slash’s Snakepit, seu projeto paralelo e Axl anunciou, o próximo disco do Guns N’ Roses para 1997. A partir daí, o destino do grupo tornou-se incerto e o paradeiro (e a aparência) do líder da banda, foi um mistério que durou até o Rock In Rio III.
Por: Matheus Davanso