No momento em que o Guns N’ Roses saiu da Sunset Strip, a banda foi rotulada como selvagem, polêmica e, acima de tudo, perigosa. Isso aconteceu em tudo o que eles fizeram e não poderia ser diferente nas artes dos seus álbuns.
O GNR frequentemente buscava imagens polêmicas, afim de acompanhar sua marca agressiva e impetuosa. Como tal, muitas das opções de arte da capa do grupo foram rejeitadas – seja pela gravadora, que se recusou a lançá-las, ou por um público vocalmente conservador que exigia imagens mais “amigáveis para a família”.
A batalha pela arte de capa começou com o LP de estreia do grupo, Appetite for Destruction. Após considerar uma opção ainda mais polêmica, a banda optou por uma ilustração. A decisão irritou muitas pessoas, mas caiu perfeitamente nas mãos do GNR.
“[O dono da gravadora] David Geffen me deu uma longa palestra sobre a capa errada”, lembrou Axl Rose durante uma entrevista à MTV. “Mas tudo isso foi meio que planejado para vender discos. Você sabe, a primeira capa é banida, vamos com a segunda.”
Mesmo com a formação do GN’R passando por mudanças, Rose permaneceu fortemente envolvido na tomada de decisão das capas dos álbuns. Ainda assim, ele não é o único membro da banda com um olhar artístico. Slash também contribuiu.
“Eu desenhei o primeiro logotipo do Guns N’ Roses, todos os nossos panfletos – e minhas tatuagens”, lembrou ele em uma conversa com a revista alemã Zeit. “A maior parte era feita por necessidade: serviu à minha carreira musical. Agora, só desenho quando tenho vontade de rabiscar um pouco.”
Abaixo estão as histórias de algumas das capas aprovadas e rejeitadas do Guns N’ Roses.
O primeiro EP do GN’R é decididamente um Do It Yourself
O primeiro lançamento do Guns N’ Roses foi ‘Live ?!*@ Like a Suicide’, um EP de quatro músicas composto por faixas selecionadas de suas fitas demo. O som de uma plateia foi inserido para que desse a sensação de que as músicas fossem ao vivo, mesmo que a banda estivesse tocando para um pequeno público em clubes na época. A capa de ‘Live ?!*@ Like a Suicide’ apresenta uma foto de Axl Rose e Duff McKagan, com o icônico logotipo de rosas e revólver – projetado por Slash – pairando sobre suas cabeças.
Axl queria usar a explosão do Challenger em ‘Appetite for Destruction’
Enquanto o Guns N’ Roses ponderava ideias de arte para seu álbum de estreia, Rose trouxe à mesa uma ideia controversa – o vocalista queria usar uma imagem do desastre do ônibus espacial Challenger. “Eu pensei, está na capa do ‘Time’, então devemos estar autorizados a usá-la, também. Não era para ser [depreciativo]”, explicou Rose anos depois. “Essa fotografia me surpreendeu. Mas eles disseram: ‘Oh, isso é de mau gosto.'” Os donos da gravadora Geffen rapidamente intervieram na ideia, já que sete pessoas morreram na tragédia.
O robô de ‘Apetite para Destruição’
O título do álbum de estreia e a capa original vieram de uma ilustração criada por Robert Williams. A imagem mostra um robô que havia estuprado uma jovem, com um monstro vermelho demoníaco pronto para se vingar. Sem nenhuma surpresa, esta capa também recebeu uma reação negativa da gravadora. De acordo com a biografia de 1991 ‘Appetite for Destruction: The Days of Guns N’ Roses’, Rose argumentou, apaixonadamente, pela capa do robô: “Axl se sentiu obrigado a apontar que a imagem em si não era indecente, é o que as pessoas escolheram ver. Para ele, representava o robô como sociedade, a garota como metáfora para a banda ou a humanidade individual, em volta do todo… Em outras palavras, ele escolheu uma arte que representasse o progresso da cultura ocidental que excedia a capacidade espiritual e emocional do homem de lidar com isso.” A gravadora cedeu e ‘Appetite for Destruction’ foi inicialmente lançado com essa ilustração em sua capa. A imagem imediatamente causou alvoroço. Grupos de advocacia o rotularam como indecente, enquanto lojas de discos recusaram receber o álbum.
‘Appetite’ ganha mais uma transformação
A gravadora do GN’R implorou para que a banda escolhesse outra capa para substituir a controversa ilustração do robô. Eles concordaram, fornecendo uma nova arte, criada por Billy White Jr. “Um dia, Axl ligou e perguntou se eu poderia desenhar uma tatuagem para ele, depois que ele viu um desenho que eu tinha feito na parede do meu primo”, lembrou White em conversa com a Culture Creature, em 2016. “Eu disse, ‘com certeza’, e nós conversamos. A cruz e os crânios que pareciam a banda foi ideia do Axl, o resto fui eu. O trabalho de nó na cruz era uma referência ao Thin Lizzy, uma banda que Axl e eu amávamos.” A nova capa do “Appetite” se tornaria uma das imagens mais famosas do rock.
“Lies” colocou o GN’R nas manchetes
O Guns N’ Roses usou da sua reputação nas manchetes para criar a capa do álbum ‘Lies’, de 1988, fazendo parecer a primeira página de um tabloide. As faixas acústicas do álbum – “Patience”, “Used to Love Her”, “You’re Crazy” e “One in a Million” – foram estampadas na capa, mas foram algumas das outras manchetes que chamaram mais a atenção. Nas cópias originais do álbum, estavam estampadas as notícias falsas: “Bater na esposa já é praticado faz 10.000 anos” e “Elefante dá à luz a anão”. Após uma série de reclamações, essas frases foram respectivamente alteradas para “LIES LIES LIES” e “Senhoras, bem-vindas à idade das trevas”.
Rock encontra a arte renascentista em ‘Use Your Illusion’
Lançados no mesmo dia, a capa do ‘Use Your Illusion I’ e ‘II’ é baseada na pintura de Rafael Sanzio, intitulada “A Escola de Atenas”. Enquanto a peça original, do século 16 – localizada no Palácio Apostólico no Vaticano – apresenta 50 pessoas, a capa do GN’R focou em apenas duas: uma figura escorada sobre uma coluna olhando para um jovem escrevendo em seu livro. O esquema de cores são diferentes entre os dois álbuns – ‘Illusion I’ usa amarelo e vermelho, enquanto ‘Illusion II’ usa azul e roxo.
Compilação ‘Use Your Illusion’
Sete anos após o lançamento do ‘Use Your Illusion I’ e ‘II’, os dois álbuns foram combinados e lançados na compilação ‘Use Your Illusion’. O álbum é vendido principalmente em grandes lojas de varejo, como Walmart e Kmart – os mesmos estabelecimentos que proibiram os lançamentos dos Illusions originais por conterem letras explícitas. Com a combinação entre os dois álbuns, a capa apresenta a junção entre os dois esquemas de cores.
O vício de Adler que inspirou ‘The Spaghetti Incident?’
Composto por várias canções cover, o álbum de 1993, “The Spaghetti Incident?”, foi o último álbum de estúdio da banda por mais de uma década. O título faz referência a um incidente que aconteceu com Steven Adler em 1989. O baterista costumava referir seu estoque de cocaína como “Spaghetti”, porque ele o mantinha na geladeira ao lado de vários recipientes com comida italiana. Quando Adler processou a banda após sua demissão em 1990, o baixista Duff McKagan foi questionado no tribunal sobre ‘The Spaghetti Incident?’ (“o incidente do espaguete?”),– colocado entre aspas com um ponto de interrogação na transcrição oficial. Assim, nasceu o título do álbum. A capa é uma representação direta do nome, fotografada por Dennis Keeley, Gene Kirkland e Robert John. E há, no entanto, uma mensagem escondida.
A mensagem secreta do ‘Spaghetti’
Na parte inferior da capa do álbum há uma variedade de letras e símbolos. Não se trata, como muitos poderiam pensar logo no início, de um código de controle da gravadora ou algo do tipo. Os fãs casuais podem nem percebê-los, mas os ouvintes mais astutos do GN’R descobriram que isso é um código. Especificamente, trata-se de uma mensagem cifrada usando o código do famoso Assassino do Zodíaco, um serial killer que atormentou o povo do norte da Califórnia em 1968 e 1969, matando pelo menos cinco pessoas (embora estima-se o total de 37). A mensagem diz: “Fodam-se todos”.
Artista diz NÃO ao ‘Chinese Democracy’
Enquanto procurava por artes para o “Chinese Democracy”, Rose se deparou com o trabalho do artista gráfico chinês Chen Zhuo. A peça de Zhuo, intitulada “China Carnival No.1-Tiananmen”, transforma a famosa Praça Tiananmen de Pequim em um parque de diversões completo, com montanhas-russas, balanços e diversos brinquedos emocionantes. Em outra arte, uma escultura gigante de Mao Tsé-Tung recebe convidados da mesma forma que o Mickey Mouse recebe visitantes na Disneylândia. De acordo com a galeria de arte Hua, “O trabalho comenta a ‘era da loucura’ da China, onde os chineses estão a procura de ganhos monetários ou buscando atividades de grande emoção.” Rose adorou a peça e queria que ela fosse para a capa do álbum, mas Zhuo, consciente das rígidas leis de censura da China e dos riscos envolvidos em colaborar em um projeto potencialmente controverso com uma banda de rock ocidental, recusou.
‘Chinese Democracy’ fica artístico
A capa do aguardado ‘Chinese Democracy’ acabou apresentando uma foto tirada pelo fotógrafo Terry Hardin. A imagem, tirada na Cidade Murada de Kowloon, em Hong Kong, mostra uma bicicleta velha encostada em uma parede dilapidada com as palavras “Guns N’ Roses” pintadas ao fundo. Muitos fãs que esperaram 17 anos pelo lançamento ficaram decepcionados com a obra.
Capa alternativa do ‘Chinese Democracy’
Enquanto muitas falsificações feitas por fãs se espalhavam pela internet, apenas uma capa alternativa foi lançada para o ‘Chinese Democracy’. “Depois que a capa com a bicicleta foi lançada, Axl queria fazer uma ‘edição de arte’ especial que apresentasse artes que ele pessoalmente selecionou de várias fontes”, lembrou Ryan Corey, diretor artístico do álbum, durante uma entrevista. “Isso resultou em um pacote completamente alternativo, e acredito que foi um lançamento limitado.” A capa dessa edição de arte conta com uma mão vermelha brilhante repleta de pequenas figuras humanas, feitas para parecerem formigas.
Retirado de Ultimate Classic Rock