Em 1998, a imagem de Axl Rose e do Guns N Roses já havia sofrido diversos arranhões – graças ao fato da banda demorar muito para lançar um disco novo, às entradas e saídas de músicos e produtores do projeto, às piadas escarnecedores lançadas na mídia pelo ex-parceiro Slash, e coisas do tipo. Para completar o circo, que tal se uma turma animada lançasse um musical no estilo da Broadway, sobre a “história e glória” de Axl, num momento em que as coisas não andavam tão gloriosas assim para o lado dele?
Pois é, teve isso: em agosto daquele ano, surgiu a peça White trash wins lotto, musical definido pelo LA Times como “brutal, mas mortalmente hilário”. E que estava levando uma cabeçada para a plateia pequenina (112 assentos) do Cafe Largo, em Los Angeles. A história citava nominalmente Axl Rose (contava a história de Axl e a “revolução heavy metal”) e tinha uma canção que falava em “I want to be in a metal band/please let me sing for you”. Brian Beacock era o Axl da peça, ou, como o LA Times definiu, o “Broadway Axl Rose” (referência cruel, claro, a Broadway Danny Rose, filme de Woody Allen de 1984).
O criador de toda aquela loucura – que durava 90 minutos e chegou a juntar cerca de 20 pessoas no palco – era um sujeito chamado Andy Prieboy. Andy era mais conhecido por ter cantado na banda new wave Wall Of Voodoo (mas ele só ingressou no grupo quando a banda já havia lançado seu principal hit, Mexican radio) e por um sucesso solo de 1990, Tomorrow Wendy. Prieboy teve a inspiração para o musical da maneira mais maluca possível: era vizinho de um casal de compositores que, segundo ele, fazia musicais horríveis para a Broadway.
“Fiquei imaginando como meu vizinho, que não tinha background nenhum de roqueiro, interpretaria a história de Axl Rose”, contou. Imediatamente, Prieboy imaginou um musical que mais parecia um milk shake de musicais da Broadway: rapaz surge do nada, realiza seus sonhos, fica milionário e perde sua alma. Como pareceu engraçado, foi adiante.
A ideia original nem era fazer um musical de verdade: Prieboy foi apresentando algumas músicas em seu show no Largo, a plateia gostou e em pouco tempo o show regular do artista no café tinha só o musical. Que por sinal era encarado mais como um work-in-progress do que como um pacote fechado. Mas acabou se revelando uma paródia dos musicais da Broadway e uma zoação com as maquinações do showbiz. Entre as canções da peça estavam coisas como Cocaine and blowjobs (“cocaína e boquetes”) e I think I wrote a symphony.
A peça durou um bom tempo (até 2000 ainda havia encenações) e nunca ficou muito claro o que Axl Rose achou daquilo tudo – o líder do Guns ao que parece não fez comentários. Em 2016, Prieboy deu uma entrevista em que revelava que sua grande inspiração ao fazer o musical foi o livro Appetite for destruction, sobre o Guns, escrito pelo biógrafo dos Doors, Danny Sugerman. “Zombei dos excessos do rock, sua autopiedade, auto-importância e seu culto piegas de uma morte juvenil”, contou.
Olha aí uma rara aparição de White trash wins lotto na TV, no programa de Conan O’Brien. Já neste link, você confere uma resenha da peça no The New York Times.