O show do Guns N’ Roses na noite de terça-feira (15) no Rio começou com algo inédito: um atraso de apenas 18 minutos, algo nunca visto nos shows da banda em território carioca. Na plateia, estava visível que a devoção precedia a performance. E o grupo não a decepcionou.
De cara, entregou “It’s so easy” e “Mr. Brownstone” – canções que estabeleceram o clima de jogo ganho. Ali por volta dos 40 minutos de apresentação, o dono do parquinho, Axl Rose, se dirigiu ao público pela primeira vez. “Como estão vocês? É bom estar aqui”. Houve pouca interação a partir daí.
Interação que, aliás, pouco se vê entre os três integrantes originais – além de Rose, o baixista Duff McKagan e o guitarrista Slash. Não é de se estranhar: desde o fim da formação clássica do grupo, em 1996, quando o Guns se transformou em um empreendimento individual do vocalista, muitas farpas foram trocadas e todos juravam que jamais voltariam a tocar juntos nesta vida – não por acaso, e com a devida dose de ironia, esta turnê de reunião foi batizada de “Not in this lifetime”.
Who, McCartney e Dylan
A plateia se entrega de vez quando a banda toca “Live and let die”, de Paul McCartney, canção de “Com 007 viva e deixe morrer”’. É a primeira de uma série de versões consagradas pela banda. Vieram “Knocking on heaven’s door”, do recém Nobel de Literatura, Bob Dylan, “The seeker”, do The Who, a parte instrumental de “Layla”, de Derek and The Dominoes, e a tradicional interpretação do tema de “O poderoso chefão”, de Nino Rota, nas mãos de Slash.
O guitarrista, aliás, mostrou a destreza característica no manuseio de seu instrumento, como no longo solo de “Rocket queen”. Nesta turnê, ele está acompanhado de Richard Fortus, guitarrista de nível técnico semelhante e que divide com ele uma versão instrumental de “Wish you were here”, do Pink Floyd.
Axl competente
É evidente que Axl não possui mais a mesma condição física – situação reforçada pelas constantes saídas do palco. Sua voz não alcança com facilidade os registros agudos de outrora, algo explícito em trechos mais exigentes de “You could be mine”. Ainda assim, ele entrega performance mais que competente em canções como “Chinese democracy” e “Better”, composições do quase não realizado álbum “Chinese democracy”, do período em que o Guns era Axl e uma série de competentes músicos de apoio.
O show foi construído com hits, como era de se esperar: “Welcome to the jungle” incendiou o pavio que queimou na direção de “Yesterday”, “Civil war”, “Coma”, “Sweet child o’mine”, “November rain”. “Nightrain” encerrou a primeira parte da apresentação.
O bis começou com “Don’t cry” e levou o público pela mão à conclusão festiva/explosiva de “Paradise city”. Ao som de uma gravação de “Faraway eyes”, dos Rolling Stones, o Guns N’ Roses deixou o palco do Engenhão. Eram 23h27.
A apresentação da banda norte-americana deixou para trás uma possível reflexão: algo que talvez seja surpreendente para a geração “millenial”, já acostumada a uma parada dominada por hip hop, sertanejo e pop eletrônico. Há não muito tempo, integrantes de bandas como o Guns N’ Roses caminhavam como deuses sobre a Terra. Esse período parece ter passado, mas quem esteve no Engenhão na teve uma breve e feliz visão dessa época.