Desde que Slash saiu do Guns N’ Roses, entre abril e agosto de 1995 (fontes indicam que ele rompeu relações com a banda neste ano) e seu breve em 1996 para sair definitivamente no mesmo ano, iniciou-se uma interminável discussão entre os fãs da banda: Afinal, quem é que pode substituir Slash no GN’R?
Desde que Slash se foi, vários outros guitarristas passaram pela banda, cada qual com suas características. Seja a esquisitice de Buckethead, eja a técnica incrível de Bumblefoot, seja a força e o peso na hora de tocar de Richard Fortus. Muitas pessoas evitam essa discussão, ora por não terem um em preferencial, ora por que isso gera discussões intermináveis que sempre acabam em ofensas ou em algumas conclusões, no entanto, pouco esclarecedoras e geralmente norteadas pelos gostos pessoais de cada um, ora por que gera fãs extremistas, que sempre acham que estão certos, seja qual for o lado que estejam.
Para alguns, comparar Slash a outro guitarrista é uma blasfêmia digna de punição eterna. Pois, no princípio, Slash criou o Céu e a Terra, as Guitarras e os Mares, e morreu na cruz por todos os pecados do Guns N’ Roses, sendo indiscutivelmente o melhor do mundo. E se você discutir ou não concordar com isso, corre sério risco de levar uma ofensa. Para outros, comparar Buckethead à Slash é outra blasfêmia. Como comparar um Deus da criatividade e da guitarra a um guitarrista que baseia suas composições em 2 escalas? Não dá! E fica nisso. Nesse espiral de infantilidade entre ambos os lados.
Fãs de Buckethead vs Fãs de Slash fazem uma briga tão madura quanto Palmeirenses Vs. Corinthianos, Católicos vs. Protestantes, Muçulmanos vs. Judeus, Gatos vs. Cachorros , Liberais vs. Socialistas.
E Pra quê?
Bem, eu como fã da banda e dos guitarristas em questão, e um ferrenho defensor da tese de que gosto não deve se misturar à lógica, tento, nesta matéria trazer um pouco de lógica e responder a esta pergunta: Afinal,quem pode substituir Slash? Ou quem mais se assemelha a ele na história do GN’R? Buckethead? DJ ashba? Bumblefoot? Não!
Então ninguém é capaz de substitui-lo? Não também. O sujeito existe, e atende pelo nome de Robin Finck. Vou me basear nas leituras de tablaturas que fiz, comparando um ao outro. Em termos de técnica, estilo e método de composição, Robin Finck foi o que mais se assemelhou a Slash. Vamos aos esclarecimentos:
Ambos concentram sua força criativa nos riffs, é o ponto forte dos dois. Robin Finck criou a maioria dos riffs de Chinese Democracy, como “Better”,”There Was A Time” , “Riad N’ The Bedouins”, “Chinese Democracy” , “I.R.S”, etc. E Slash, claro, fez belos riffs também, como os clássicos “Sweet Child O’ Mine”, “Estranged”,”Welcome To The Jungle”, etc. Além disso, ambos são bem “minimalistas” em relação à criação de riffs, e até mesmo nos solos, usando poucas notas, e delas tirando melódias incríveis. Para se tocar o riff Inicial de “Better”, por exemplo, usa-se apenas uma corda, e com uma variável de um tom entre as notas tocadas. Slash, ao que tudo aparenta, para fazer o riff inicial de “Welcome to the Jungle”, se valeu de também uma corda.
No primeiro solo de “There Was A Time”, feito por Robin Finck, usa-se duas cordas na maioria do tempo (só se usa uma terceira em apenas duas notas) e com poucas notas por compasso. Assim também é o primeiro solo de “Sweet Child O’ Mine”, usa-se poucas notas e cordas e mesmo assim, saiu um solo inesquecível. Mas, se exigido, Robin Finck também pode criar belos solos, com várias notas por compasso e ainda assim deixando um bom feeling, vide o primeiro solo de “Street Of Dreams”, e o segundo de Better. Aliás, feeling é uma característica mútua entre ambos.
Robin, mesmo vindo de uma banda que era a mais mecânica possível (dado que veio do Nine Inch Nails, que é uma banda de Rock Industrial), conseguia também por feeling nos solos que lá fazia, despejando solos com bends (levantar a corda da guitarra, em uma definição simplória), seguidos de bends em notas agudas, transpassando até um pouco de raiva ou agonia a quem escutava (vide o solo dele em “31 Ghosts IV” em algumas apresentações).
Lembrando que feeling é “sentimento”. E ninguém sente amor 24 horas por dia. Muitos sentem agonia, raiva, tristeza, felicidade. Há vários tipos de “Feelings”. Para muitos fãs, ter “feeling” é pegar a guitarra e fazer um solo choroso. Não! Ter Feeling é passar o que a música quer passar. Você não colocaria o solo de “Better” em “Shackler’s Revenge” ou “Oh My God”, nem vice versa. Você também não colocaria os solos de “Is This Love” do Whitesnake em “The Four Horsemen” do Metallica, muitos menos os solos de “November Rain” em “Happiness In Slavery” do Nine Inch Nails. Não dá. Cada música pede uma coisa, pede um solo, pede um feeling. Ambos passam o que a música quer passar. Seja a tristeza de “estar em um estado de ter que lidar com um amor não correspondido” de November Rain, seja a melancolia de “The Blues”/”Street Of Dreams”. Seja a confusão de “Coma”, ou a felicidade de “Better”, ambos dão o que a música pede. E tudo isso valendo-se de poucas notas e de algumas escalas.
Nas bases, ambos também não complicam. As bases são simples e de boa funcionalidade. E também em improvisos. Slash vivia improvisando em “Patience”, sobretudo em 1993, onde inventava de emendar até “Over The Hills And Far Away” do Led Zeppelin,”Pinball Wizard” do The Who e “Imagine” do John Lennon, durante os solos da música. Robin fazia o solo que gravou para a versão 1999 de “Sweet Child O’ Mine”, nos shows da banda durante a turnê 2001/2, e fazia seu próprio solo em “Patience”, diferindo e muito do apresentado pelo cartola, tanto nas versões ao vivo quanto em estúdio.
Assim como já dito antes, ambos passam o que a música precisava passar, e o faziam com a banda também. Na sua fase entre 1986 à 1991, o Guns era Rock N’ Roll puro, sem frescuras, com vocais cortantes, guitarras marcantes, bebedeiras, drogas, mulheres, mulheres, mais mulheres e diversão. A Partir de 1992, o Guns foi se tornando algo mais parecido com uma corporação, e foi lentamente se afastando. No show de Praga em 1992, por exemplo, a banda estava incrível(mente) separada. No palco, ainda detonavam, ainda que Axl parecia ligar o modo automático e só acordar brevemente em “November Rain” para dar tudo de si, e então mais uma vez, ligar o modo automático. Após o fim do show, a banda inteira foi para o hotel e Axl saiu para ver a cidade – sozinho. Veem? Não havia mais uma química que reunisse todos. Ninguém se reunia no After-Show para falar “beleza, detonamos nesse show! O que podemos fazer para melhorar no próximo?”
Axl estava com sua cabeça em Seymour e em os problemas de sua vida, e raramente sorria ou brincava com a platéia. No show de Hannover, sentou-se num canto do palco durante “Live N’ Let Die” e lá ficou, balançando as pernas, esperando que aquilo acabasse e ele pudesse voltar a se fechar em si mesmo. Slash e Duff num espiral decrescente de drogas e bebidas, e a saída de Izzy, um ano antes, tinha matado o motor-criativo da banda. E a banda ruiu.
Nada dura para sempre.
Na reencarnação do Guns, o mesmo se apresenta mais maduro, vendo que a vida não é só feita de drogas, bebidas e mulheres. A partir do Use Your Illusion II, o Guns amadureceu muito. E foi isso que Axl trouxe para a encarnação Chinese Democracy da banda. Um amadurecimento. Tanto musical, quanto sentimental. Não é a toa que considero Chinese Democracy como um Use Your Illusion III.
Chinese é um disco triste, frio, e inspirado, sobretudo pelo som metálico, cheio de ruídos e por muitas vezes pesado e distorcido como do Nine Inch Nails. Robin Finck foi o meio de botar um coração nessa frieza toda, nessa barulheira mental de Axl, nessa fria democracia chinesa, assemelhando-se bastante ao homem de lata das histórias que ouvíamos quando éramos crianças.
Em composições, ambos também foram de suma importância para a banda, com Slash sendo creditado em várias músicas do Guns, e Robin Finck também, sendo até “co-autor” de Better. Mas nesse sentido, Robin foi um pouco mais completo, por ter feito o arranjo de baterias para “Better”, e os teclados para “If The World”.
Somando-se tudo, em minha opinião (lembrando que você está numa coluna), Robin Finck foi o cara que veio no momento exato, mais certo impossível (entrou em 1997, um ano após a saída oficial de Slash), achado num lugar imaginável (ele estava tocando numa turnê do Cirque Du Soleil, Axl foi ver a apresentação e acabou gostando do guitarrista) e fez o que parecia impossível: Substituir alguém quase insubstituível. Portanto, Robin Finck FOI um substituto a altura do Slash.
Mas, no período de 11 anos que ficou na banda (1997 – 2008) , foi ofuscado por alguns guitarristas, como Buckethead, que por ser a figura mais chamativa da banda , e por tocar solos de embasbacar, ofuscou todos os outros. Quando ele saiu, entrou Bumblefoot, outro monstro na guitarra.
Hoje,esta em turnê com o Nine Inch Nails, e é apreciado pelos fãs da banda.
Alguns solos de Robin Finck, no Guns N’ Roses e no NIN
(1. Better, 2. 31 Ghosts IV, 3. The Blues/Street Of Dreams, 4. The Wretched, 5. My Michelle, 6. Ruiner, 7. Patience, 8. Wish, 9. Sweet Child O’ Mine, 10. Closer.
1 comentário
Boa matéria, concordo em tudo o Robin Fick trouxe sua personalidade sem precisar imitar ninguém.