Em recente entrevista ao Ultimate Guitar, o guitarrista Robin Finck falou sobre a sua entrada no Guns N’ Roses, o processo de criação de algumas músicas do “Chinese Democracy”, o porquê de três guitarrista na banda e muito mais. Confira:
Como você se envolveu com o Guns N’ Roses e com o álbum “Chinese Democracy”?
Eu não conhecia o Axl. Eu já não estava mais tocando com o NIN naquele momento e eu tinha saído em turnê com o Cirque du Soleil, que na época não viajava pra todos os lugares como agora, estávamos então em Las Vegas. Foi uma turnê norte-americana debaixo de uma grande tenda azul e amarela. O que eu estou dizendo a você foi o inicio de como tudo aconteceu. Axl tinha vindo para simplesmente ver o circo (risos) e ele e eu nunca tínhamos nos encontrado e ele não sabia que eu estava lá. Um dos caras que estava com Axl nas arquibancadas apontou-me e disse (em voz baixa mais animado), “Axl, você esta vendo o guitarrista lá embaixo? Ele é o Robin do Nine Inch Nails. ”
A maneira como você disse faz parecer que Axl sabia quem você era.
Axl me disse isso logo após nos conhecermos. E ele meio que coçou a cabeça e estava sentado lá pensando: “O que ele está fazendo aqui?” Hah hah hah. Naquela época, Axl já não estava mais tocando com Slash, mas o resto dos caras originais (leia-se corretamente: Duff, Sorum, Dizzy e Paul Huge) ainda estavam juntos a ele. Eu estava no meu apartamento em Oakwood com o resto do circo. Isso foi antes dos celulares e eu tinha um telefone que ficava pendurado na parede da cozinha. Ele tocou e alguém disse que era um representante de Axl Rose, que queria falar comigo – “Eu estaria no número em 15 minutos?”
Soou muito oficial.
Ele veio todo vestido de azul claro. Eu meio que tirei todos os tipos de conclusões. Eu, de repente segurei em suas mãos e antes do primeiro beijo ele foi direto para “fazermos os bebês” (risos). Eu disse para o cara: “Ah, eu posso pegar o seu nome e o seu número e te ligarei de volta em 15 minutos”. Eu então me calei.
Mas, eventualmente, você falou com Axl?
Acabamos nos falando depois naquele dia e ele me convidou para tocar com ele e o resto dos caras do Guns N’ Roses no estúdio em que eles estavam alojados. Foi uma oportunidade muito bem-vinda só por tocar um dia. Eu já estava nessa coisa de circo por um ano ou mais. Mas eu fiquei impressionado, era como se um dos porteiros do show do circo me dissesse: “Ei, eu tenho um bateira na minha garagem. Quer ir tocar um pouco de AC/DC?” Eu deixaria ter passado essa oportunidade. Então, como era um pedido de Axl e do Guns N’ Roses, eu não estava nenhum pouco bravo com isso.
E como foi, a primeira vez tocando com o GNR?
Eu fui lá e tocamos músicas do Guns e alguns covers e, eventualmente, eu já estava trazendo as minhas fitas DAT que já estava trabalhando no meu apartamento.
Você começou a trazer as suas próprias músicas?
Nós começamos a tocar algumas de minhas músicas. Isso foi numa segunda-feira, porque as segundas-feiras o circo não se apresentava. O circo ficaria na cidade por, eu acho que no máximo quatro meses ou talvez três meses. Então, eventualmente, o circo ia arrumar as malas e ir para o norte e Axl me disse, “Não vá. Fique aqui. Eu quero gravar um álbum. Eu quero fazer uma turnê com o Guns N’ Roses”. Há alguns outros detalhes e isso é, eventualmente, o que todos nós pretendíamos fazer. Naquela época, eu nunca teria sonhado que seria assim por muitos anos – 10 anos dentro e depois fora da banda.
Tocar com Axl é uma experiência completamente diferente de trabalhar com Trent Reznor?
Houve certamente mais diferenças do que semelhanças. Era uma dinâmica muito diferente para a banda; os ensaios eram diferentes, e era como outra vida, eu estou realmente grato por ter sido capaz de experimentar dois desses mundos musicais muito diferentes. Às vezes, tocávamos nos mesmos locais, ficávamos nos mesmos quartos, nas mesmas arenas, isso tudo foi uma viagem fascinante.
Você conhecia toda a historia de Axl com os integrantes?
Claro, com certeza. Uma coisa que foi meio que um presente para mim, mas eu tive que fazer uma escolha consciente e não permitir que ele me dirigisse, não pelo fato de eu estar tocando com Axl, mas pelo fato de que eu estava tocando com Axl e eu não estava ali como Slash. Isso teria sido a morte de qualquer projeto real e acabaria qualquer senso de diversão ou liberdade.
Você só tentou tirar isso sua mente?
Bem, eu não diria que eu tentei ignorá-lo. Eu só, meio que comecei a entender de verdade, bem em primeira mão que dois desses caras que apresentariam essas músicas para o mundo provavelmente não viriam a fazer isso juntos (risos). Mas às vezes era difícil estar naquele lugar – literalmente em pé – na frente de um monte de outras pessoas que talvez não sabiam como sinceramente esses dois caras (se sentiam a respeito) provavelmente não iriam tocar essas músicas.
Você falou que eventualmente trazia suas próprias ideias musicais. Será que essas DATS cheias de ideias se transformam em canções como “Shackler’s Revenge” e “Better?”
Umm, sim. Havia tantas. Algumas delas foram escolhidas e algumas delas foram gravadas para o lançamento do álbum e ainda existem em algum lugar. Eu não sei onde.
Algumas das canções de “Chinese Democracy”, como “Shackler’s Revenge” tem uma sensação de rock industrial. Foi essa a sua participação?
Umm, não necessariamente, e não o tempo todo. Eu acho que, especialmente com o Guns, eu estava mais de um guitarrista que toca com a alma do que de artista sonoro. Eu tocava as músicas dos membros originais e meio que isso me dirigia para o que eu pensava que eu queria ouvir o Axl cantando e eu provavelmente não estava sozinho nisso. Esse era o tipo de direcionamento que me fez apresentar todo o material que eu fiz.
Axl trabalhou com vários guitarristas – Buckethead, Ron “Bumblefoot” Thal, Paul Tobias e Richard Fortus – em vários momentos. Por que ele quis tantos guitarristas envolvidos?
Eles vieram aos montes e todos esses nomes não estavam presentes ao mesmo tempo. Ficávamos tanto escrevendo, como ensaiando e gravando antes de enfim tocarmos tudo ao vivo como um grupo. Era como se fosse, hah hah hah, um pouco de um circo. Às vezes eu tinha que apenas deixar acontecer o que esperávamos, outras vezes pensar como funcionariam as canções numa apresentação. Era só entrar no fluxo do que estava acontecendo porque havia algo maior acontecendo do que qualquer coisa acontecendo. Embora afirme todos eles são grandes guitarristas.
São mesmos músicos incríveis. Axl procurava então muitas texturas de guitarra para as músicas?
Bem, a soma de tantos guitarristas aconteceu por tantos anos que cada tipo de fase teve a sua própria necessidade orgânica. Talvez seja um pouco prolixo dizer isso.
Eu sei o que você quer dizer.
Caras vieram e se foram (risos). Originalmente ele ia montar a banda apenas com duas guitarras. Eu estava muito divido, então eu pensei e voltei para o Nine Inch Nails. Na minha ausência, eles estavam tentando me substituir e Josh Freese, baterista na época, trouxe o Buckethead para preencher, essencialmente, a minha vaga. Eles realmente gostavam dele, mas ele é uma espécie de um guitarrista dublê. Ele faz muitas coisas específicas e tem uma sensibilidade genial sobre si. Mas ele raramente toca a mesma coisa duas vezes e quando você está tentando fazer os cruzamentos em “Nightrain”, ele apenas tornava tudo um pouco (Risos) diferente. Então eles precisavam de alguém para ancorar as canções. Mantiveram Buckethead para fazer o que Buckethead fazia e precisavam de alguém para tocar ao seu lado.
Você fez um grande solo em Street of Dreams.
Já tínhamos tocado a música ao vivo como banda. Quando eu digo o vivo, quero dizer que tínhamos ensaiado (a música) em uma sala no volume máximo tantas vezes que foi também a forma como o solo foi gravado no álbum (risos).
“Chinese Democracy” também foi gravado muito alto?
As gravações eram barulhentas e eu sempre estava de pé na sala de controle ou na sala de gravações. Esses (solos), tipo, vieram muito rapidamente e, em seguida, tínhamos apenas uma espécie de aprimoramento da primeira impressão e então, martelávamos nisso o máximo que conseguíssemos. Eu realmente digo que isso não era um método.
Você se lembra de fazer algum dos solos que saíram no álbum?
Quando eu soube que eu ia entrar e gravar uma das partes do solo de “This I Love”, eu tinha ouvido ela algumas vezes sem as guitarras. Gostava de ouvir a faixa sem as guitarras e apenas tentar ouvir o que vem naturalmente, tanto quanto começava baixo ou alto, o tipo de som que você sabe onde começar e onde acabar. Eu sempre gostei de guitarristas que tocam em frases, talvez como um tocador de berrante que precisa tomar um fôlego. Eu não pensava sobre isso – eu estou pensando nisso agora porque você me perguntou do que eu já pensei sobre isso (risos). Não havia muito pensamento nisso para ser honesto.
Quais são seus pensamentos gerais sobre ter trabalhado com Axl no álbum “Chinese Democracy”?
É difícil para mim, para resumir. Aconteceu durante um período tão longo que resumo como uma mudança do ensino médio para a faculdade. Tive com eles alguns dos meus momentos favoritos como guitarrista que foram algumas noites que nem sequer fizemos ou gravamos. Eu estava tenso como toda a equipe de gravação e apertado com a banda. Éramos um bando de caras e nós tivemos uma explosão em nossas carreiras. Nós não tínhamos uma explosão a cada noite, mas durante nove ou dez anos, em retrospectiva esses são os momentos que mais me lembro.
Tradução: Elvis Fernando // Guns N’ Roses Brasil Fórum
Adaptação e publicado por: Axl Rose – Fã Clube
1 comentário
Grande guitarrista!!!