Eis que o soldado, empunhando corajosamente seu fuzil, se vê completamente abandonado em campo de batalha, enquanto exércitos inimigos, armados até os dentes, avançam em sua direção!
É mais ou menos assim que bandas independentes se sentem diante do feroz mercado “pop” brasileiro. Suas armas: microfones, guitarras, contrabaixos, baquetas e amplificadores. Porém, munição inofensiva se comparada aos imponentes cifrões que comandam o sistema. Silenciosamente, todas rezam por uma última injeção de ar nos pulmões do Rock N’ Roll! O que está destruindo a cena independente brasileira? Bandas ruins? Poucas casas de show que abrem espaço para apresentações autorais? Produtoras que fingem apoiar bandas emergentes com pseudo-festivais, mas que na verdade estão lucrando absurdamente com seus sistemas de cotas de ingressos, se aproveitando da falta de maturidade dessas bandas?
Eu respondo: tudo isso junto! Um monte bem grande e fedorento “disso”!
Se você dedicar dez minutos do seu tempo às redes sociais de bandas e produtoras independentes do Brasil, testemunhará uma avalanche de convites para festivais – na sua grande maioria, teens – que rolarão em casas já “tiazinhas” (no sentido de tradicionais) como Inferno Club, Outs, Tribe House, Hangar 110 etc. Aí você pensa: “Uau! Existe um cena indie muito foda no Brasil!” Mas o que ninguém sabe é que a maioria dessas bandas – muitas delas recém-saídas das “fraldas” – estão literalmente pagando para tocar!
A equação é simples: quer tocar, então venda “x” ingressos a “x” reais, encha nosso bolso de grana e terá a chance de subir com a sua banda num palco com som mal equalizado e equipe técnica pseudo-profissional (dessas produtoras) que pouco se importa em lhes oferecer infra-estrutura digna. Ah, e se não venderem a cota de ingressos, pagam assim mesmo!!!
A situação é bem semelhante à de uma boiada sendo “tocada” por meia dúzia de boiadeiros desmiolados, sem os direitos de perguntar, de opinar e de sequer saber para onde está sendo levada. (Pro matadouro, talvez!)
O mais incrível é que existem muitas bandas que se sujeitam a isso! Suam a camisa para vender ingressos “pra” galera da escola, “pra” galera do bairro… e até mesmo “pra” galera da família! Esse esforço todo simplesmente para fazerem parte do line-up de um festival qualquer e para poderem tocar trinta minutos (nem isso!) como atração fake!
No final das contas, só fazem parte de uma estatística feia: a dos enganados!
Enquanto isso, a maioria desses pseudo-produtores lucram absurdamente com o “corre” dessa “molecada” e, de quebra, encaixam suas “bandinhas” nos horários mais fodas e próximos aos das atrações principais dos festivais – na sua grande maioria, bandas que já saíram de cena, em nítida “falência”.
O que está acontecendo, pessoal?! Onde está o orgulho de vocês?! Tocar em festivais onde só são aceitos devido à quantidade de ingressos que são capazes de vender?! Esse é o caminho?! É a isso que se resume o sonho de vocês: à quantidade de grana que conseguem botar no bolso dessa tribo “canibapitalista”?!
Às vezes me pergunto se idealismo está fora de moda. Ou se INTELIGÊNCIA é coisa do passado…
Sou de uma época onde bandas recebiam METAS, não cotas. Se atingissem as METAS de venda de ingressos, tinham o direito de participar da divisão dos lucros dos eventos.
Depois que se cobriam todas as despesas, o “líquido” era racionado em iguais proporções dentre as bandas que atingiram o seu objetivo. Por que essa matemática não dá mais certo?!
Reflitam e se mecham pra mudar a cena!