Introdução por W. Axl Rose
INTRODUÇÃO
“Eu liguei para Del mais ou menos na época que nosso álbum “The Spaguetti Incident?” estava sendo lançado e queria saber se ele tinha alguma ideia para o vídeo da música “Ain’t it fun”. Nós conversamos um pouco sobre a música – que é um cover dos Dead Boys, que transmite uma sensação de desespero. Quando estávamos quase no fim da conversa, Del disse que ele a via como uma canção negra, sombria e viciada.” Mas não é dessa forma que você vê tudo?” – perguntei brincando.Você tem em suas mãos o primeiro trabalho de ficção publicado por Del, “The Language of Fear” (A Linguagem do Medo). Após ter lido algumas histórias, você saberá o que quero dizer. Nessas histórias existe um verdadeiro senso de destruição que pode dominar qualquer um que não consiga ter o domínio das coisas. Há doses de extrema violência, perversidades, inseguranças, vícios, infidelidade e outros temas buscando o lado mais obscuro do ser humano. Ele pinta um quadro vivo das pessoas. Existe um verdadeiro abismo e ele adora explorá-lo. Del sempre me liga depois de escrever algo particularmente estranho e diz: “Eu vou para o inferno.”
Aí ele lê ou me passa um fax do que escreveu. Pessoalmente, apenas acho que ele gosta de intimidar o inferno. O livro é uma ficção moderna feita por alguém que começou a escrever por diversão. Ele adora confrontar os tabus e, como é fã de terror, deve saber o que os outros fãs do gênero gostam e querem ler. O livro mostra diferentes áreas da vida e o que devemos evitar. Escreve sobre temas que interessam a ele, não importa se é obscuro. Existe também um senso de rock n´roll nessas histórias porque quando ele começou a escrevê-las – como, por exemplo, “The Nerve ” (O Nervo) e “Mindwarp”(Mente Deformada) – foram escritas em 1986 e todos nós estávamos envolvidos no circuito de clubes noturnos de rock, vivendo na rua. Naquela época, todos nós éramos apaixonados pelo lado negro da vida. Estávamos tentando chegar em algum lugar enquanto nos divertíamos com toda aquela agressividade. Passamos por aquelas experiências e temos sorte de termos sobrevivido a todas aquelas lições com apenas uma porção de cicatrizes. Boa parte das histórias de Del reflete suas experiências pessoais, tornando-as até mesmo mais do que simples formas fictícias. Estas histórias se enquadram no lado auto destrutivo das coisas que, na verdade, me ajudaram a não me destruir. Enquanto algumas dessas histórias são apenas um tipo terror/comédia, outras foram inspiradas em situações pessoais da vida real. Ele expressou seus sentimentos e emoções através das histórias de terror porque muitas vezes percebíamos o quanto a realidade de nossas vidas era assustadora. Escrever, para Del é o jeito que ele encontrou de lidar com suas próprias emoções, lutas com substâncias e decadência, sempre adicionando uma dose de terror. Del estava preocupado com as coisas que não eram necessariamente boas para ele, mas o nascimento de suas duas filhas o ajudou a lidar com isso e, agora, ele enxerga o lado bom das coisas, exceto em suas histórias. Eu assisti suas batalhas contra o álcool e as drogas, mas também o vi tornar-se pai. O amor por suas filhinhas e o desejo de vê-las felizes fez com que ele perdesse seu lado auto destrutivo.Recordando a primeira vez em que nos encontramos, no verão de 1985, comida e tédio retratam aquele dia. Del sempre foi do tipo de procurar algo para se divertir o mais rápido que puder,seja um jogo de hockey , filmes de terror, videogame, ou os Simpsons. Acho incrível, considerando nossos lados auto destrutivos, como nosso relacionamento nos ajuda a evitar nossa própria destruição. Muitas vezes Del me ajuda a trabalhar com algo que é emocionalmente grande demais de se suportar sozinho. Isso me ajuda a não me auto destruir e no processo que leva o GNR ou qualquer coisa que me deixa mal. Ele sempre conversa comigo sobre a estupidez que eu não quero fazer mas que acabo fazendo quando frustrado, magoado,enfurecido ou embaraçado. Ambos salvamos um ao outro por várias vezes. Mesmo quando não tínhamos noção do que iríamos fazer de nossas vidas, e se iríamos ou não nos dar bem, ainda tínhamos respeito um pelo outro. Hoje, um ajuda a inspirar sucesso ao outro e, nos sucessos da vida de cada um, sempre houve um senso de compaixão pelo que quer que seja que o outro estivesse fazendo. Valorizamos a opinião pessoal de cada um e encontramos um jeito de pô-las em prática em nossas vidas. Se eu precisar de Del, ele estará lá por mim, e se ele precisar de mim, eu estarei lá por ele. Ele trata as pessoas do jeito que gostaria que elas o tratassem e muitos não são assim. Esse é Del James.Del também é o cara que me ligou e disse: “Acabei de escrever a morte do meu melhor amigo”. Para mim, o conto “Without you” me ajudou a focalizar o que poderia acontecer em minha vida e , muitas vezes, o que aconteceu. Apesar de Del ter se inspirado em situações pelas quais eu estava passando na época, esse foi o jeito que ele encontrou de me ajudar a admitir e enfrentar uma situação dolorosa. Isso, talvez, tenha me impedido de ir longe demais algumas vezes. Quando as pessoas estão procurando por sua própria identidade e as coisas não estão indo bem,elas saberão se são ruins e perdedoras e, baseadas nisso, criam uma identidade.
Embora “Without you” tenha sido escrita antes do nosso primeiro álbum (1987), o vídeo para a música “November Rain” (1992), onde você vê o nome de Del no fim, é apenas um pedaço desse conto. Coisas que aconteceram na história, aconteceram realmente em minha vida. As metas estabelecidas antes do primeiro álbum do GNR chegaram próximas aos níveis de sucesso descritos em “Without You”. É um ultimato de um rock n´roll auto destrutivo. Na história, Mayne Mann, o protagonista, escreve uma música chamada “Without you” e, em torno disso, eu comecei a escrever “Estranged”. Eu me lembro de ter ligado para Del após terminá-la e disse: “Eu compus aquela canção”, falando sobre uma música que significa tanto para mim, quanto “Without you” significa para Mayne e acabei sendo assombrado por essa canção exatamente como ele. Acho espantoso que o caráter da personagem feminina, Elisabeth,seja o de uma pessoa boa, pois em suas últimas palavras – “Não se preocupe, eu não me entregarei” – e ele acabou de vez com Mayne. Acho que, na parte do rockeiro, houve muito ódio e culpa. Tudo é falha de Mayne e ele se lamenta, é isso que posso relatar. Há muita dor pessoal na tentativa de Mayne ver o por quê ele não consegue um amor certeiro para investir.
Durante anos, estive pensando em fazer este livro ou um longa metragem baseado em “Without you”, e isto me manteve centrado em não querer me tornar o Mayne, embora ele fosse basicamente eu. Havia coisas envolvidas na personagem que tinham muitos elementos e Del, bem como muitos dos meus elementos. “November Rain” é na verdade mais apropriada ao conto do que “Estranged”, mas Stephanie Seymour tinha outros planos, então tivemos de mudar os nossos. Essa história me ajudou por um bom tempo e eu adoraria ter feito esse filme, mas agora é melhor para mim, tentar perceber as coisas semelhantes na minha vida e deixar a história viver seu próprio desfecho.Certa vez, Andy Morahan, que dirigiu “November Rain”, e eu fomos convidados para fazer um dos episódios da série “Tales from the Crypt” (Contos da Cripta) e eu pedi para Del fazer um script baseado em suas histórias. Isso teria dado a nós três uma oportunidade interessante de fazer algo que muito nos interessa e sempre quisemos fazer: a minha de atuar, a de Del de escrever e a de Andy de filmar. Del não sentiu que tivesse uma história adequada para a série,então escreveu um conto chamado “The Imortals” (Os Imortais), que eu pensei que seria legal adaptá-lo, porém nós descobrimos que eles baseiam seus episódios em livros cômicos. O conto nunca foi ao ar, mas ele existe. Qualquer história de Del poderia ter sido levada as telas como qualquer outra e seria muito intensa, principalmente se ele estivesse envolvido.Del tem um conhecimento especial sobre muitas situações das quais ele escreve e ama o que faz. O conto “Bloodlust” (Luxúria Sangrenta) é algo que você dificilmente esquecerá. “Adult Nature” (Natureza Adulta) foi de fato uma idéia louca que tive. Não quero entrar em detalhes, mas na época em que ele a escreveu, Del estava trabalhando num teatro pornô e é lá que a história se passa. “Saltwater and Blood” (Água Salgada e Sangue) está mais próximo do coração de Del. O que mais gostei dessa história foi a descrição da personagem principal sobre o medo e o desespero de tentar decifrar o que ocorreu em sua mente. Del está constantemente explorando a sua mente e ele faz perguntas que as pessoas não gostam de fazer para elas mesmas. Eu assisti a evolução de Del como pessoa através da sua escrita. Existe uma certa simpatia pelo mal que faz de cada história interessante e diferente. Particularmente, depois de “Night Shift” (Conto Noturno), de Stephen King, que é um dos meus contos de terror favoritos, eu não lia um assim há anos. Não estou dizendo que sou um expert em terror, mas aquele livro tinha uma relevante dose de humor, e assim é “The Language of Fear”. Há anos atrás, acreditei no talento do Del e no fim da leitura pensei, “Hey, você vai publicar isto?” e tentei incentivá-lo a continuar. Bem, ele fez e eu tive uma influência nessas histórias. Acho que esse livro é o começo da carreira de Del como um escritor de ficção e terror. Esteja pronto para algo cru e emocionalmente terrível. Sinceramente”(21 de novembro de 1993)
SEM VOCÊ
Enquanto ele queria compartilhar a dança, Mayne não podia trazer ele próprio para um interrupto ponto de beleza. O corpo dela bem contornado balançava tranquilamente como o de uma criança, devagar como o ritmo. A inocência dela era encantadora, sua beleza parecia um sussurro. Mayne sabia que ela estava brava com ele por ter saído de fininho, observando-a sem deixar que ela soubesse, mas a adolescência dentro de seu corpo adulto encorajava-a e ele não se importava com as conseqüências. Mas isso era somente para os seus olhos. Os olhos dela faiscavam, lembrando-lhe um oceano, vasto, com toda a sua beleza e miséria.Uma fraca neblina dançava através de seu corpo. Um olhar comprido fazia ele ver através do vestido que cobria a figura do corpo dela e uma luz envidraçada de suor a fazia brilhar. Ela parecia bonita demais para ser real. Durante esse segundo e euforia visual, Mayne admitiu que ela era a única mulher que realmente amou.Os olhos dela tremeram. Ela deve ter me ouvido, ele pensou quando ela se virou para ele. Ele não queria arruinar a beleza só para desfrutar disso. Seus lábios grossos sorriram simpaticamente. Então o volume da música começou a aumentar. Uma pontada afiada de pânico atravessou-o quando imaginou qual de suas era. Suor frio saía de seus poros e o horror o consumiu. A visão dele era espiral como a realidade distorcida. A respiração tornou-se difícil,complicada. O desespero atacou e torceu todos os músculos de seu corpo esbelto. Maior do que a sua dor era o seu medo. Sem reprimir a ansiedade que passava através dele, ele começou a irem direção ao stereo.Tudo perdeu a sua textura natural, as paredes, o chão, o ar se tornou surreal. A música alta, era cada vez mais difícil para ele se mover. Ele tinha de trocar o cd mas seus pés pareciam concreto.Ele não podia se mover rápido o suficiente. Ela já tinha o tambor da pistola contra a sua cabeça. BLAMM ! Mayne acordou coberto de suor, se encolheu calado ainda com a garganta seca. Ele tinha passado as últimas seis horas em coma pelo abuso de drogas e álcool que o levaram ao sono. Dormir era um raro proveito e era impossível arquivar sem alguns de seus assistentes. Não importava se ele dormia seis horas ou seis minutos, os pesadelos sempre o faziam rastejar. Sem um travesseiro ou um anti-depressivo, ele não conseguia dormir. Ele escrevera uma música e seria sempre assombrado por ela. Com as mãos tremendo, secou o suor de sua testa e esfregou seus dedos contra o lençol de cetim. Seus braceletes de ouro e prata balançavam juntos. Rolava de um lado para o outro, fitou o relógio despertador digital no topo da mesa preta que tinha um refrigerador na base. Em cima do relógio tinha uma carteira de Marlboro pela metade. Ele fitou os números digitais verdes mas eles não fizeram sentido. Mas de qualquer forma, não importava que horas eram, o seu tempo era o dinheiro de outras pessoas. Perto do relógio havia algo mais importante que o dinheiro ou o tempo. Devagar ele se sentou. Torturou os olhos olhando para o mármore preto da mesa, procurando por alguma sobra preciosa de pólvora marrom. Havia fósforos queimados, cigarros tortos, mas não tinha drogas. Isso não importava, ele sempre poderia conseguir mais. Sentado na beira da cama, Mayne estendeu a mão para baixo e abriu a porta da geladeira embaixo da mesa. Dentro havia muitas Budweiser, sodas e uma garrafa cheia de champanhe Dom Pérignon. Ele pegou uma lata fria, tomou meia em um gole. Ele fazia isso todas as manhãs. Instantaneamente sua cabeça dolorida começou a ficar melhor. Contudo, ele não queria admitir, tinha chegado a hora de voltar a viver. Ele sabia que tinha de estar no estúdio em breve mas não se sentia capaz para isso. Além disso, as gravações de seu último disco, “Alone” tinham terminado há um mês. O álbum estava agora no estágio final das mixagens. Se Mayne gostasse do que estava ouvindo, ele aprovaria e o álbum seria lançado no programa. Se não, teria de ser remixado até ele aprovar.
Mas então, por que porra precisavam dele?
Ele adiou mais que pôde para finalmente levantar.Mais do que o seu quarto, seu banheiro estava uma área de desastre. Roupas descartadas, cremes, lixos, fitas e toalhas de rosto. Usando um radar para localizar o vaso, ele conseguiu encontrá-lo, ele concordou o impulso de vomitar e se aliviou. Ele voltou para o quarto, não se sentindo um ser humano, mas sim um robô vestindo uma pele alugada. Havia uma monótona dor no seu abdome com a qual ele acabou se acostumando. Esse, como muitos outros defeitos na sua saúde, poderiam ser atribuídos ao seu excessivo estilo de vida.
Além de suas jóias, Mayne só vestia um curto Jockey. Ele tropeçou nas roupas e retirou um par das costumeiras calças de couro pretas e se trocou. Ele encontrou um quimono de seda púrpura escura pendurado no guarda-roupas e colocou-o. Numa gaveta do armário tinha um grama de cocaína. Escavando com a unha na sua rosa direita, um músico maltrapilho tomava fôlego com oito rajadas de aspirina e rock n´roll.O quimono estava frio perto de sua pele quente. Ele adoraria se estivesse febril e ele provavelmente estava. Ele estava sempre doente, como se com uma febre perpétua. E isso, claro, até ele conseguir a sua droga.Ele terminou a cerveja, arremessando a lata vazia na direção usual de uma lata de lixo que estava sempre cheia de latas vazias.Estrelando em um espelho comprido, o doente enclausurado não reconheceu a imagem. Claro, os cabelos loiros compridos e as tatuagens entregaram-no, mas ele parecia tão débil. Mayne parecia alguém que estava pronto para colocar o pijama de hospital. O seu rosto, que um dia foi atraente, estava azul, tenso e expressivo. Sua barba fina cobrindo seu queixo e seus olhos esmeralda não estavam longe de autênticas gemas, mas preferível, as costumeiras jóias. Ele precisava de uma bebida.Os últimos catorze dos vinte e oito anos de sua vida, ele desperdiçou sua maioridade dentro de uma garrafa. Cervejas para adolescentes e festas de vinhos transformando-se em vodcas e rum nos clubes noturnos, o qual voltou a virar direto para o whiskey. Saindo do quarto, ele sussurrou uma oração para o seu patrono. Jim Bean, perguntando se havia algum na cabine de licor.Uma luz ouro brilhante rodeou o abafado blecaute da cortina. Houve uma pequena guerra prévia na sala durante a tarde. Cinzeiros cheios, mistas garrafas de licor, pacotes vazios e mais vazios, latas de cerveja cobrindo todo o lugar. Muitos cds cover estavam com resíduos de cocaína endurecida. Mayne tentou lembrar quem estivera fazendo festa lá, mas não conseguiu. Um pacote vazio dos cigarros Kool indicou que um dos seus muitos distribuidores, Jamie Jazz tinha distribuído algo lá. Não levou muito tempo para ele fazer a conexão entre os saquinhos vazios no quarto e Jamie. Esse era o típico lixo de Hollywood que distribuía cocaína, crack ou heroína para celebridades problemáticas, explorando seu lado vulnerável. Mayne procurou mais vestígios de quem mais esteve fazendo festa lá, mas veio um branco.Ele escorregou perto da cozinha e abriu o escritório. Havia muitas garrafas não abertas de licor branco. Seu pequeno estômago ficou nervoso. Por que não havia whiskey? Ele afastou as garrafas arrastando até encontrar uma própria. Um suspiro de alívio escapou e ele virou a tampa e anotou mentalmente que tinha de repor a garrafa. O aroma do whiskey era equivalente a um café preto fresco para ele.” Aqui, olhando para você, amor”, Mayne disse em voz alta, levando a garrafa aos lábios. Como em todos os outros dias, um gole sempre leva a outros. Depois de muitos goles, ele começou a se sentir bem. Ele colocou a garrafa no balcão e depois no refrigerador. Se ele tivesse sorte,estaria bêbado antes do dia começar. Ele pegou outra Budweiser e voltou para a sala bagunçada. Havia um monótono zumbido dentro do seu crânio. Ele não podia diferenciar a cocaína do ar condicionado central. Se ele pudesse pelo menos se lembrar que dia era, ele saberia se a empregada viria. Ela poderia trazer bebida. O músico sentou-se no sofá, pegou o telefone e discou 411.
-“Operadora: Que cidade por favor?”
-“L.A.”
-“Sim?”
-Que dia é hoje?”
-“Senhor eu sou uma operadora”
“Senhora, você dá informações, e eu lhe fiz uma pergunta”, Mayne corrigiu-a, um sorriso satânico escapou dele. Depois de um momento de silêncio, ela respondeu sua pergunta.”É quarta-feira, senhor”.”Obrigado”, ele disse e desligou. Não haveria serviço de empregada naquele dia. Ele tomou a cerveja, terminou o cigarro e cheirou mais cocaína. Depois de vários segundos confusos, ele lembrou-se onde guardou a mala verde e começou a pôr em ordem a bagunça. Ele caminhava ao redor do único quarto e pegava tudo que não estava aparafusado jogando fora. Garrafas e recipientes de comida estendiam-se ao lixo até um ponto onde ameaçavam rasgar. Depois de dez minutos de arrumação, o apartamento começou a tomar forma. Além deste condomínio, ele ainda tinha um em Manhattan e outra mansão em Houston. Ele raramente frequentava sua mansão nas colinas de Hollywood ou então a casa de Maui. Ambas traziam muitas lembranças dela. Foi na casa nas colinas de Hollywood que ele e Elisabeth Aston passaram a maior parte de suas vidas juntos. Como seus pensamentos começaram a traí-lo, a pensar mais nela, Mayne instantaneamente foi para o bar e pegou a garrafa de whiskey. Ele poderia pensar nela o tempo que tivesse uma rede de neurônios salva.Com toda a grana, fama e sucesso que ele tinha alcançado, eram as coisas simples como a amizade e o amor as mais difíceis de se manter. Ele nunca quis machucar ninguém, especialmente aqueles mais perto dele, mas por uma razão desconhecida, era isso que acontecia. Ele nunca pretendeu ser malicioso, mas por viver dentro de um microscópio com todo o mundo observando-o, algo que ele fez, público ou privado, tendia a escapar de seus olhos e virar notícia no jornal da tarde. Falhas pessoais ou besteiras não eram permitidas pela elite.Muitas vezes ele sofreu silencioso, preso pela sua própria fama, até ele ir para uma caverna.Mas a caverna não era tão larga quanto seus olhos poderiam perceber. Tudo que Mayne sempre tentou ser, certo ou errado, era ele mesmo. Com todos os médicos, especialistas, terapeutas,fãs e todos mais na sua organização tentando ajudá-lo, ele acabava se afundando mais dentro de seu casulo, alienando-se cada vez mais. Muitas vezes ele perguntava a si mesmo quem ele realmente era. Seria ele outra regeneração social herdada junto com o número que recebeu no seu nascimento ou um autêntico reflexo da sociedade? Ele era um fenômeno ou só uma fachada? Era ele produto de sua imaginação ou só outro tijolo? Algum dia ele entenderia seu próprio destino?
Mentalmente ele analisava porque seu relacionamento com Elisabeth foi mais fracassado do que considerado. Como o estudante que ele não era, ele separava situações, ponderava coisas que deveria ter dito e não poderia ter sido pego fazendo. Quando o negócio era sexo, por que Elisabeth não podia entender que só porque ocasionalmente ele saía do quarto deles, não significava que ele não a amava. Sexo era como regras de um jogo. Ele nunca forçou-a a ser mulher de um só, mas bem lá no fundo, ele sabia que se descobrisse que ela transava com outro, isso doeria. Um monte! Mesmo com esse conhecimento, ele não poderia limitar-se a uma só mulher. Ele gostaria de ter esse bolo e comê-lo também. Ele tentou ser aberto com ela, mas concluiu que certas coisas deveriam permanecer secretas. Sexo era um ego adicional, parecido com o que ele sentia no palco. Audiências diferentes, como parceiros diferentes, eram mais desafiadores e, faziam-no lutar mais pelos aplausos. Como pelas drogas, ele também era viciado pela fúria. Inclusive com o império a sua disposição, dinheiro não poderia comprar amor, nem felicidade, nem paz mental. Nem Elisabeth.Olhando ao redor da larga sala de estar, um artista absorveu um cenário moderno. Nenhuma de suas coisas, exceto alguns itens não significavam nada para Mayne. Nenhuma dessas merdas eram reais. Ele estava cercado de troféus de um jogo que não tinha nenhum significado. Ele estava cansado de jogar jogos.Uma afiada dor no seu ouvido esquerdo mandou-o de volta para o corredor escuro que ligava o palco ao camarim. Dentro de sua cabeça ressonante, oradores realimentavam, ascendiam e explodiam. Ele estava experimentando outro efeito do rock n´roll, a dor de ouvido. O zumbido monótono durou apenas alguns segundos, mas as lembranças do seu último show com a sua banda, Suicide Shift, nunca apagariam.Por razões que ele não podia lembrar, Elisabeth foi incapaz de assistir ao último show da turnê.A banda esteve em turnê na maior parte dos últimos quatorze meses, com mais de 285 concertos. Todas as semanas, Mayne pagava a passagem para ela, em qualquer cidade em que ele estivesse se apresentando e ela ficava algumas noites com ele. O último concerto de qualquer turnê é uma noite importante. Era a primeira turnê do Suicide Shift e Mayne queria compartilhar as experiências com ela. Foi o ponto culminante de várias milhas viajadas, muitas horas e trabalho e a celebração que veio mais tarde foi bem merecida. Ele ligou para ela muitas vezes, oferecendo passagens aéreas, tentando persuadi-la, mas ele não podia.O show durou muito mais de duas horas de ferocidade elétrica. Claro que Mayne consumiu uma abundância de álcool e drogas antes e durante o show, (ele fazia isso em todos os shows) mas era na Flórida e a platéia de lá o entusiasmava e sabendo que seria capaz de dormir por um mês dava a ele uma faísca extra. Toda a vez que ele tocava um solo, tentava melhorar qualquer esforço prévio para solar. Toda a vez que se aproximava do microfone para cantar um backup,sua voz surgia com o vigor do whiskey. Para ele isso era o melhor do rock n´roll. A multidão reconhecia isso com aplausos ensurdecedores. Depois do último bis era hora de celebrar. Ele subiu com duas mulheres impulsivas para o seu quarto de hotel. Na privacidade de seu banheiro, ele injetou um pouco de heroína. Não foi o suficiente para fazê-lo vacilar, mas o suficiente para que ele se sentisse alto e bem. As duas mulheres apenas o fariam se sentir melhor. Depois do esforço para tirar suas calças de camurça marrom, ele se juntou as mulheres nuas e desse modo começou a orgia.A droga nuveou sua memória que já não estava muito boa mas Mayne se lembrava de ver Peter Terrance muito bêbado andando pelo seu quarto. O baterista da banda tinha se enganado e confundido o quarto de Mayne com o seu. Em espírito de celebração, Mayne ofereceu para ele uma garota. Terrance recusou, dizendo que acharia uma para ele e foi embora. A orgia continuou. Logo depois bateram à porta. Achando que era Terrance aceitando a oferta, Mayne gritou para quem quer que seja que estivesse na porta para entrar.
Parada na porta, com a mala da noite anterior, estava Elisabeth. Em um momento súbito ela pegou um avião de Los Angeles para Miami para ficar com ele. Ocorreu lá uma cena horrível. Ela está arruinada e histérica. Era o começo do fim do relacionamento deles. Mayne estalou do passado. Seu joelho esquerdo estalou alto como suas pernas o lideravam para o telefone. Ele apertou o botão. O número de Elisabeth ainda estava programado então ele apertou só para ouvir o telefone dela tocar. Também na memória do telefone estava o telefone do seu agente, de outros três membros de sua banda atual, o Grupo Mayne Mann e de vários fornecedores de drogas. Depois de não receber nenhuma resposta de Elisabeth, ele apertou outro botão. Os vários braceletes tilintaram juntos e alguns segundos depois houve uma resposta.”Yeah?” cuspiu uma voz, sem entusiasmo, do telefone do carro.”Sou eu”, Mayne disse, engolindo a cocaína que estava gotejando na sua garganta.”Meu homem especial”, declarou a voz de Jamie como uma caixa registradora soando. “O que eu posso fazer por você?””Uptown and Downtown”, cocaína e heroína.”Você se lembra do que eu fiz por ti na última vez, certo?””Sim”. Ele não se lembrava.”Você me deve três contos daquela merda, irmão”, o fornecedor explicou a título de prevenção que a sua memória falhava.”Estou certo de que tenho algum troco flutuando por aqui. Se eu não achar nada te darei meu cartão Versatelle e você terá o que eu te devo.””Apostado, estarei aí em breve”, Jamie disse como se estivesse fazendo um favor para Mayne e desligou.”Ferrão de merda”, Mayne resmungou para ele mesmo. Ele acendeu um cigarro e pegou outra cerveja. O lábio estalou alto e a espuma rosa foi direto para a boca. Ele assistia entretido, então passou pela cortina e puxou a alavanca, deixando a luz do sol invadir a sala. “Vai se foder.”, ele disse alto, apertando os olhos e levantando seu dedo do meio para o céu.A vista do seu balcão era vasta, exibindo a Cidade dos Anjos abaixo, mais agora do que nunca,Mayne deixava as cortinas fechadas, preferindo não fazer parte do mundo de fora. Era mais seguro dentro de seu apartamento.Contra uma parede distante, dobrada no canto, chaves de mármore voltando-se para a sala,onde havia um Steinway. Ele desperdiçou muitas horas de prazer no instrumento e inclusive quando ele não estava tocando, o piano dava uma visão que o estimulava. Era um instrumento de preciosidade e graça. Perto do piano, acomodadas no suporte estavam dezenas de guitarras:Les Pauls, Stratocasters e Telecasters. As guitarras que ele mantinha no apartamento eram aquelas que significavam algo para ele.O som do zumbido, Mayne rastejou de seus pensamentos. Mayne foi até o interfone e apertou o botão que destrancava a porta da frente. Alguns minutos depois, Jamie Jazz estava dentro de seu apartamento. Dezenas de discos de platina e ouro adornavam as paredes. Horas sobre anos de planejamento,escrevendo, gravando e lutando, repetindo sempre este círculo. Suas letras se originaram do interior da dor e seu raciocínio muitas vezes lento, mais influências de blues, ligadas a relacionamentos difíceis. Eram dessas músicas que ele se orgulhava, e acreditou ser o pedestal do teste do tempo. As músicas mais rápidas, mais estilo hard rock tinham um significado pequeno ou usavam seu significado debaixo da manga. Infelizmente os prêmios não eram mais prêmios sem Elisabeth. Mayne se desculpou e entrou no quarto. Escondido atrás de outro disco de platina, estava um cofre. Ele tirou o disco da parede, escolheu a combinação abrindo o cofre. Dentro havia jóias,documentos, mais de quatro mil dólares em dinheiro, um cachimbo e uma Magnum 357. Ele pegou algumas notas e voltou para a sala, deixando o cofre fechado mas destrancado. Jamie estava sentado num sofá de couro preto, pés em cima da mesinha de café de mármore, olhando casualmente para as calças suadas do Suicide Shift (que ele ganhou de Mayne) e para uma camiseta suada. Ele pegou uma cerveja. “Qual é o total?””Incluindo a última noite? Seis.”, Jamie replicou, inquieto com o bip na cintura. Mayne entregou-lhe as seis notas, colocando o resto no bolso da calça. Avaliando o olhar de seu rosto, o fornecedor entendeu que ele queria ficar sozinho e saiu.”Me chama se você precisar de algo mais.”, Jamie ofereceu, saindo do apartamento. No momento em que a porta da frente bateu, a mente de Mayne investiu, mas seu corpo recusou a movimentar-se. Ele tinha drogas nas mãos, querendo achar uma seringa, ele voltou para o quarto. Alguma coisa mais poderosa que seu vício prendeu seus olhos na parede do cofre. Ele caminhou até ao cofre, abrindo a porta. Dentro havia um álbum contendo memórias preciosas. Colocando as drogas em cima da mesa bagunçada ele se jogou na cama e começou a olhar rapidamente o livro encadernado de couro. Presas nas fotos, estavam as imagens e os sentimentos tão intensos que faziam ele se sentir mais quente que um suicida. Elisabeth provocou-o intelectualmente enquanto estimulava-o sexualmente. Ela cuidou dele quando estava doente e isso ocorreu muitas vezes. Ela estabeleceu sentimentos íntimos e livres que ele tentou evitar. Sua beleza, tanto interna quanto física, era algo que ele queria, ainda quando ela era dele, ele fez tudo conceptível para perdê-la. Ele virou a segunda página. Ele não tinha idéia de quantas vezes tinha se masturbado com aquela foto. Todos os outros dias, talvez. Foi uma foto rápida que ele tirou dela quando estavam de férias em Las Vegas. Na foto o vento soprava seu longo cabelo para longe de seu rosto e ela sorria. Atrás dela estava o Caesar´s Palace Hotel, onde eles ficaram a maior parte das duas semanas, desfrutando da cobertura. Era uma típica foto de turista, mas era o sorriso dela que o excitava. Era tudo tão livre da dor.
Mayne faria tudo para tê-la sorrindo para ele como ela estava na fotografia.
Ele faria tudo só para ter seus lábios, seu corpo novamente.Ele desabotoou suas calças de couro. Antes de começar a se estimular, ele puxou a porta da geladeira e tirou uma garrafa fechada de Dom Pérignon. A garrafa abriu fazendo um barulho alto e a fumaça subiu até o topo, mas o líquido não derramou. Bebendo aos poucos mas profundamente, ele deu uma olhada rápida no álbum de fotografias, que era pequeno, evitando a última página. Ele sempre se sentia mal quando olhava a última página e voltava para a página dois.Com dois terços da garrafa vazia, ele puxou as calças, ficou de joelhos e derramou o resto nas palmas das mãos. Isso fazia parte do ritual. Um bom champanhe era algo que ele e Elisabeth gostavam de compartilhar.
Ele poderia estar ainda compartilhando isso com ela.
Ele envolveu as mãos através da ereção molhada e seus pensamentos começaram a fluir.
Foi durante um de seus últimos jantares juntos que ela disse algo que inspirou-o a escrever a música mais bela de sua carreira.
“Eu não posso viver com você e não posso viver sem você”, ele podia ouvi-la dizendo como se isso tivesse acontecido ontem. Palavras fluíam da caneta para o papel mais rápido do que ele podia escrever. Mayne concluiu que esse era seu método particular de explicar tudo o que tinha acontecido entre eles. A música “Without you”, não era uma desculpa, era o seu lado da história. Isso era a sinceridade do rock n´roll que vendeu acima de três milhões de cópias nos Estados Unidos, colocando-os no topo das vendas de discos e o Grupo Mayne Mann no topo do mundo do rock n´roll. Ele ofereceu à Elisabeth metade dos direitos autorais da música por quê sem ela, não haveria música. Ela recusou.A venda total dos discos do Grupo Mayne Mann resultou na turnê. Quando a turnê chegou em Los Angeles, Mayne queria desesperadamente vê-la. Não importava quantas mulheres ele tinha,não importava o que ela tinha dito sobre ele, ele faria tudo por ela, exceto deixá-la escapar para sempre de sua vida. Ele ligou para ela dezenas de vezes em dois dias, deixando mensagem após mensagem na secretária eletrônica. Ela nunca respondia, ele deixou para ela dez All-Acess para a Will Call. Ela nunca respondeu.Depois do show, Mayne jurou que não faria o mesmo erro duas vezes. Ele tomou um banho rápido, colocou uma roupa seca e partiu, evitando a zorra do backstage. Ele e seu motorista foram para o apartamento de Elisabeth. Usando o telefone da limusine, ele discou para ela de uma rua abaixo do apartamento.Novamente ele foi recebido pela secretária eletrônica.
Elisabeth, eu sei, eu espero que você esteja aí. Eu estou aqui embaixo e mesmo que eu tenha de quebrar a porta para te ver, eu farei isso. Se você for chamar a polícia, bem, chame agora, eu não mereço nada…Porra, eu não sei o que estou tentando dizer além de que eu ainda me importo com você. As palavras não podem curar o que eu fiz mas, porra, o passado está feito…eu preciso mesmo ver o seu rosto de novo”, Mayne explicou calmamente depois do bip.As palavras continuavam ecoando na sua mente como se ele estivesse maravilhado e se ele pudesse expressar as coisas de uma maneira diferente.Mas era tarde demais agora, ele pensou, ainda dentro do prédio. Essa foi uma das raras ocasiões que depois de um show Mayne estava sóbrio. Quando ele chegou ao andar dela com o elevador, ele escutou uma música familiar. À medida que ele foi se aproximando do apartamento dela, o volume aumentava. Então seu mundo começou a girar incontrolavelmente quando um tiro ecoou através do corredor. Ele correu pelo apartamento dela humilhado, com os ombros baixos, com o descuido abandono batendo na porta de madeira. Ele encontrou Elisabeth no sofá, sangrando profundamente, a maior parte da cabeça salpicada na parede atrás dela. Na mesa de café na frente dela, borrifada de sangue estava uma caneta esferográfica e muitas bolas de papel amassado com coisas escritas.Ele ficou destruído perante o corpo dela. Como isso pôde ter acontecido? Tudo que ele sempre fez foi amá-la. Arrasado, ele foi devagar até o aparelho de som. Um CD com o single “Without you” estava programado para repetir. Ele tentou imaginar quantas vezes ela tinha escutado aquela música e desligou o som. Então ele notou que perto da secretária eletrônica tinha uma carta. Número um com uma bala, estava escrito na carta salpicada de vermelho. Sacudindo e com convulsões, as lágrimas escorreram livres, Mayne começou a gritar a todos os pulmões. Isso soou como se alguém tivesse desencadeado um animal selvagem. Seus gritos perigavam quebrar as janelas. Uma enxaqueca perfurou seus batimentos e toda a sua cabeça estava sobrecarregada com a pressão. Ela teria se matado porque eles tinham acabado ou porque ele não tinha deixado-a ser ela mesma? Teria sido a música, uma das poucas coisas que ele tinha feito que levaram-na a fazer isso? Isso realmente tinha acontecido? Então outro pensamento lhe veio à mente. Ele tirou a pistola da mão dela e colocou contra a sua cabeça. Ele estava indo se juntar a ela.
CLICK … estava vazia, Elisabeth sabia que ela só precisaria de uma bala. Mayne saiu desse pesadelo e foi empurrado para dentro de uma outra memória. Ele achou o quarto familiar, era a suíte de lua-de-mel em Las Vegas e ele quase se sentia confortável. Acama estava bagunçada e Elisabeth estava sorrindo travessa.”O que você quer fazer?””O quê?” Mayne respondeu confuso. Eles já tinham bebido várias garrafas de champanhe e feito amor duas vezes.”O que você quer fazer?” ela repetiu calma, desafiando Mayne a responder. Mayne pegou a manha do jogo dela e decidiu jogar junto. Se ela estivesse dando para ele a opção de escolher o que eles fariam em seguida, ele tiraria vantagem da generosidade dela.”Ou você pode vir aqui e dizer que me ama ou deitar comigo.”O rosto de Elisabeth demonstrou alegria. Palavras como amor eram difíceis de sair da boca de Mayne. Mais uma vez ela sorriu e começou a descer através da linha de cintura dele. Alguns minutos mais tarde, quando ela sentiu que ele estava mais excitado que podia, Elisabeth olhou para o homem dela e com a expressão mais sexy que conseguiu fazer, disse mansamente, “Eu te amo.”Mayne deu um grunhido de desprezo. O poder surgiu, dando a ele algo para trabalhar mas não havia prazer no orgasmo. Nunca mais haveria. Ele arremessou o álbum de fotografias a distância e deitou na cama, se sentindo morto, olhando para o teto. Por alguns segundos, ele pensou ter ouvido o início de “Wituout you”, mas foi só sua imaginação. Seu corpo cansado deitou lá, pareceu que um ano tinha passado até ele se sentar. Pelo menos as drogas, na mesa, eram reais.
Tudo que ele precisava estava na mesa. Escondida embaixo do rádio relógio, estavam uma seringa e uma colher. Tinha um copo pela metade com água e um isqueiro por perto. Na colher ele misturava a quantidade adequada de heroína e água e então, usando o isqueiro, aqueceu a colher até a mistura se arruinar antes de ficar como cotton dentro da colher. Com as mãos seguras, ele adicionou cocaína e a sua speedball estava completa.Sendo uma celebridade, ele não poderia dar-se ao luxo de ter seus braços secos. Ele normalmente injetava nas costas do seu antebraço ou em seus pés. Ele também injetava no pescoço, mas do jeito que estava se sentindo naquele momento, não tinha tempo. Como um expert em seringas, ele injetou numa veia saliente do antebraço.”Legal”, ele resmungou, devagar examinava o braço quando a speedball chegou. Ele voltou a cair na cama. Entre as drogas e suas emoções, ele estava exausto. Uma coisa boa das drogas era que elas entorpeciam a maioria das suas pressões. Ele estava fora, como se a droga acertasse-o em ondas poderosas. Levou muito tempo até ele voltar a sentir seu braço esquerdo tocar em algo. Devagar ele deu uma volta.O álbum de fotografias estava aberto na última página. A última página continha o atestado de óbito de Elisabeth e um cartão de solidariedade. As lágrimas que ele segurou desde a manhã começaram a cair pela sua bochecha. O seu rosto pálido enrubesceu, como se ele sentisse sua força evaporar. Ele estava se afogando na tristeza mas não tinha pena de si mesmo e isso fazia-o se sentir pior ainda.Ele sentou com uma pergunta ecoando dentro de sua cabeça.
Por que ela tinha de morrer ? Ele não tinha resposta e levantou rapidamente.
Por que tudo era tão fodido?
Ele voltou para a sala. Precisava de um whiskey.
Por quê? Ele amava-a tanto.Por quê?
Ele ofereceu-a a metade dos direitos autorais. Metade. Isso era um império financeiro mas ela recusou.
Por quê?
Ele tentou emendar. Ele tentou ser bom de acordo com as regras da sociedade. Ele queria entender tudo que tinha acontecido com eles. Queria que ela amasse-o não importava o quanto ele tentasse, ele sempre fodia tudo.
Por quê?
Ele queria ser normal de novo, mas isso não era possível.
Por quê?
Ele queria se sentir perto de Elisabeth mas ela estava morta. Isso atormentava sua frágil alma,mas por um rápido segundo de lógica insana, Mayne concluiu que seu corpo não deveria ser poupado.”Arrrgghh”, ele resmungou, atacando a sala como um lutador enfurecido. Punhos e pés atacaram as paredes e a mobília. Ele trouxe o punho direito para perto do corpo e um longo buraco atravessou o plastro. Ele agarrou uma lâmpada oriental desligada na mesa e arremessou através da sala. Violentamente arremessou um cinzeiro de mármore dentro de uma placa,quebrando ambos. Respirando com dificuldade e ensopado de suor de álcool, ele agarrou um disco de platina e quebrou-o, espalhando pedaços de vidro por todos os lados. Os fragmentos de vidro no chão brilhavam como o reflexo do sol na areia.Não importava quantos quartos de hotel ele tinha estraçalhado durante sua carreira. Mayne nunca tinha danificado uma guitarra. Era um rigoroso tabu até aquele dia. Ele foi até a fila das guitarras e pegou uma Stratocaster ‘ 68, estraçalhando o corpo de mogno até ficar um pouco maior que madeira de fogo.Com aquele instinto destrutivo, ele se sentiu levemente melhor. Ele caminhou até outro disco de platina e acertou o punho direito contra o vidro. Sangue jorrou da mão que estava segura pelo Lloyd de Londres.Pela primeira vez naquele dia, ele sorriu. Mayne pegou uma garrafa de Jim Beam do bar e bebeu. O líquido “mata a dor”, aqueceu seu peito pesado e confortou sua mão sangrando que parecia precisar de pontos. Ele foi até o stereo Fischer e, usando a mão que sangrava, ligou o receptor. Estava sintonizando uma estação de rock clássico. Era a única estação segura no mostrador porque não tocava nenhuma de suas músicas. Mayne Mann era muito novo, muito circulante. A estação só tocava material dos anos 60 e 70. Ele instantaneamente reconheceu a música, era “I don´t need no doctor” do HumblePie. Era o rock n´roll cru que tinha inspirado-o a ser músico. Seguido do Pie vieram os AllmanBrothers. Mayne poderia relatar o que era ser preso num postal. Durante os comerciais ele foi até a cozinha pegar outra cerveja. Na propaganda de uma das lojas de correntes, que estava anunciando seus preços na região mais baixa de L.A., a música de fundo, acompanhando o comerciar era “Without you”.Seus olhos doeram, mas as lágrimas não caíram, não importava onde ele estava, ele não poderia esconder-se dele mesmo. Como um homem em missão, ele foi até o stereo, agarrou o receptor e arrancou-a com ambas as mãos. O puxão foi forte, mas levou algum tempo até que as luzes desligassem.Com o receptor nas mãos, ele tropeçou para trás, rasgando os fios e golpeando um dos largos oradores Bose. Desesperado e ofegante, ele fez seu caminho para o gigantesco corrediço da porta de vidro que levava para o balcão. Ele casualmente parou e não fechou a tranca que mantinha a pesada porta fechada. O ar fresco atacou seus sentidos. A brisa fresca revigorou-o,ele subiu no balcão e olhou para fora. Seu Bentley cor de azeviche brilhava no estacionamento logo abaixo.Ele pegou o receptor, arremessou-o sobre o balcão e acertou o carro. Depois de alguns minutos de admiração, sua mira foi exata. O vidro voou violentamente quando o receptor acertou o pára-brisa e quebrou-o.
Foi buscar outra cerveja, estava distraído com o que tinha acontecido e puxou a porta da geladeira o mais forte que pôde. Ela quebrou, derramando vários itens no chão. A porta balançou presa por uma fechadura. Mayne pegou uma cerveja, bebeu metade e como um forte arremessador de baseball, jogou contra a sua coleção de guitarras, apenas acertando a sua preferida: uma clássica Sunburst ’57. Ele pegou outra lata da geladeira quebrada e seus olhos voltaram para a coleção de guitarras.As guitarras eram como crianças adotadas e ele amava cada uma de uma maneira diferente.Certas guitarras traziam memórias mas cada guitarra tinha a habilidade de criar a mágica. Era esse potencial que ele respeitava e admirava nas guitarras até essa tarde. Agora não importava o quanto ele amasse uma guitarra, ou o quão valiosa ela era, tudo que ele queria era sentir dor.A dor trazia-o para perto da realidade.Trazia-o para perto de Elisabeth. Ele deu ao mundo a música, boa música e pediu um pequeno retorno.
Um pequeno espaço para criar alguns lances, e sobre paz interior?
Ao invés disso, ele tinha mais bens materiais que poderia usar, mais grana que poderia contar e nada de valor para poder lutar. Não fazia muito tempo que ele tinha lutado por tudo isso. Agora que ele possuía um pedaço do rock, ele desejava voltar. A vista do topo não era tão pitoresca quanto ele imaginara. O que ele fez por sua expressão artística, a companhia de discos vendeu por capital. Ele rapidamente cresceu desiludido com o sistema, mas o que mais ele poderia fazer? Sem a indústria não poderia compartilhar sua música. Não importava o quanto alguém tentasse explicar para ele, notas musicais nunca seriam iguais a dólares. Ele fazia música porque desde a sua infância, ele verdadeiramente amava rock n´roll. Era para as pessoas, para as suas pessoas, para quem ele escrevia música depois de escrever para si próprio. Mas então por que ele não podia dormir durante a noite? Ele começou a responder.
Ele iria arrebentar suas guitarras. Se não fossem por elas, ele não teria os problemas que tinha.E ele salvaria a porra da guitarra ‘ 57, pelo menos por enquanto.Ele bebeu cerveja, tirando a lata de sua boca gananciosa. Budweiser escorreu pelo canto de sua boca. Quando a lata estava quase vazia, ele amassou-a e jogou como futebol. Enfurecido, pegou uma Les Paul Black Beauty e quebrou-a selvagemente contra a parede. Ele levantou uma rara Telecaster acima da cabeça e bateu contra a mesa de café, quebrando ambas. Então ele pegou outra Les Paul, balançou-a como um morcego, quebrando uma lâmpada e vários outros objetos de quebrar o braço da guitarra. “Porra de guitarra”, ele resmungou.Ele escutou algo que tinha um pouco de ritmo. Parecia um baterista tocando na sua cabeça.Levou vários segundos até ele perceber que era um dos vizinhos batendo na parede.”O QUÊ? ESTÁ UM POUCO ALTO DEMAIS PARA VOCÊ? , Mayne foi na direção que vinha o barulho. Não parou.”Você está me emputecendo….pau no seu cu “BAMM….BAMM…BAMM…BAMM…BAMM….Mayne caminhou pelo quarto e parou na frente da mesinha. Ele pegou sua cocaína e colocou um pouco nas costas da mão que não estava sangrando e cheirou. Depois, ele lambeu os resíduos que tinham no pulso, entorpecendo seus dentes e gengivas. Havia um pacote de Marlboro na mesa. Ele pegou um e acendeu. Deu uma tragada funda e ouviu os arredores.O vizinho ainda estava batendo.O cinzeiro estava cheio então Mayne pôs o cigarro na beira da mesa. Ele tinha tentado evitar o confronto mas o cabeça de merda da porta ao lado não tinha parado de infernizar Ele foi até a parede do cofre, pegou a Smith & Wesson, 357 Magnum e carregou-a fora do quarto.”OK PUTO, QUER BRINCAR?”BAMM…BAMM…BAMM…BAMM…BAMM…Kabam…Kabam…Kabam..Kabam…Ele descarregou três balas naquela parede. O barulho parou no mesmo instante. Novamente ele sorriu. Ele mirou a pistola num disco de platina na outra parede e explodiu a esfera brilhante.Ele mirou para a TV e mandou-a para outro reino.Uma bala sobrara.
Uma bala sobrara.Ele segurou a pistola prateada tremendo. Ele poderia facilmente se juntar a Elisabeth, tudo que lhe custaria seria um rápido aperto no gatilho. A ideia apareceu para ele. Talvez ele acertasse na próxima vida. Devagar, olhos fechados, ele levantou a pistola. O gatilho machucou seu dedo escarlate. O tambor acomodou-se bem contra sua cabeça.Repensando, ele voltou a abrir os olhos. Na sua frente, gozando dele , havia mais duas guitarras Les Paul. Houve um ponto de sua vida em que a música incorporou o que era sagrado. A dedicação e anos e anos de prática eram uma prova de seu amor. As guitarras eram a sua paixão, sua expressão, sua passagem para fora da escuridão. Mas tudo isso mudou com apenas uma música. Agora essas guitarras eram lembranças de que ele nunca poderia recuperar sua inocência.
“Por que eu não posso morrer com alguma porra de dignidade?” ele pensou enquanto a raiva o consumia. Ele inclusive não poderia cometer o suicídio se em algum lugar não tivesse música interferindo. Seu braço sacudiu meio debilitado, mirando uma de suas guitarras. Ele deu um recuo quando os fragmentos de guitarras voaram para todos os lugares. Ele fez um buraco maciço na guitarra e passou por cima para examinar sua meticulosidade. Isto era definitivamente a morte, mas não era o suficiente. Ele pegou os restos e jogou contra a porta de vidro. Ele subiu no balcão que dava para a rua. Abaixo, uma pequena multidão tinha se aglomerado ao redor de seu carro de luxo despedaçado.”Alguém quer um autógrafo?” perguntou jogando fora os fragmentos da guitarra.”Espere um minuto, espere um minuto. Eu tenho outro presente.” Berrou e correu para o quarto. Seus passos pesados esparramaram o cigarro que ele tinha esquecido sobre a mesa. Ele tropeçou no tapete. Mayne enfiou a mão dentro do cofre, agarrou uma mão cheia de notas de cem dólares e voltou para o balcão antes que a multidão fosse embora.”Não digam que eu nunca lhes dei nada”, anunciou deixando o dinheiro voar. Vários espectadores pularam para pegar a grana e mais rápido do que o imaginável, foram embora. Mayne acenou para a pequena multidão e entrou.Uma guitarra sobrara.
Ele admirava a ‘ 57 maravilhado por suas belíssimas cores. Era propriamente chamada Sunburst(Estouro do Sol). Vermelho, laranja e amarelo rodeavam o corpo de madeira. Esta tinha decoração em ouro. A Sunburst era a preferida de suas guitarras. Ele tinha outras duas dezenas armazenadas, mas esta fora a primeira guitarra que ele comprara depois que o Suicide Shift assinou o contrato de gravação. Era como ele se recompensava por ter “feito isto”. Essa também era a guitarra que ele tinha usado para compor a música “Without you”. Ele se aproximou com cuidado e respeito e gentilmente pegou-a. Sentou no chão estilo indiano. Bem no fundo, ele estava orgulhoso por não ter destruído-a com machadadas.Sua mão machucada doeu, mas ele queria tocar. Sangue gotejou da sua mão para o corpo da guitarra. Encantado, Mayne observava o sangue escorrer. Não importava o quão intoxicado ele estivesse, seus dedos nunca o traíam e essa guitarra sempre respondia seu chamado. Ele começou a tocar algo que parecia Hendrix. Ele parou brutalmente. Algo com seu último acorde abalou-o e ele não pôde continuar. De uma vaga maneira, ele relembrou uma parte de “Without you’. Depois de uma grande pausa, Mayne recuperou parcialmente a sua calma. Multimilionários
como Mayne Mann não poderiam chorar. Eles estavam além das lágrimas ou pelo menos era nisto que a sociedade queria acreditar. Mayne Mann era só Stephen Maynard Mandraich, um garoto talentoso que podia correr seus dedos através das cordas da guitarra. Ele começou a dedilhar o riff “Don´t believe a word” do Thin Lizzy. Mesmo a guitarra não estando ligada no amplificador, ele podia escutá-la como se estivesse. Ele deixou a última nota soar e parou para refletir. Ele costumava amar o sentimento que ele tinha pelo instrumento que tinha em mãos.Costumava amar os strings que fazia. Amava simplesmente abraçar a guitarra. Então sua mente viciosa relembrou-o que ele também amava o jeito que Elisabeth sentia. Rapidamente ele jogou a guitarra de lado. Ela caiu fazendo um alto DDDWWWAAAANNGGG.Ele admirou a guitarra em vão e pensou nela. Ambas deram a ele tanto prazer, mas ele nunca fora capaz de expressar sua gratidão. Ele nunca contou para ela a respeito do que ela tinha-no feito sentir, sobre o quanto ela amava-a e quando ele disse, a música reafirmou que ele deveria ter deixado a sua boca fechada.
Pelo menos ela estaria viva.
Mas a música era pura e ele queria tocá-la para ela. Mesmo seu corpo físico não estando presente, ele ainda poderia cantar para ela. Ele queria tocar, mas tinha medo de encostar na guitarra. Então, Mayne viu uma alternativa. Ele pegou a garrafa quase vazia de whiskey e terminou o que sobrara. A garrafa caiu silenciosa de suas mãos. Muito bêbado e muito drogado, ele subiu cambaleando em cima do piano.As cinzas do cigarro sobre o tapete começaram a pegar fogo. O sofá pegou fogo rapidamente e ele se expandiu pelo quarto. Roupas ajudaram a pegar fogo; em pouco tempo o quarto estava em chamas.
Até algumas horas nebulosas atrás, a vida de Mayne, não importava o quão miserável fosse,era algo com que a maioria das pessoas poderiam sonhar. Era tudo uma ilusão e ele era um das elites do rock n´roll, um herói. Agora, ele estava reduzido ao seu básico eu, e nada realmente interessava. Ele sentiu os espinhos envolvendo seu coração e pela primeira vez em muito tempo, ele se sentiu humano novamente. Ele sufocou sua espiritualidade com o abuso de drogas. Ele atrofiou sua saúde e seu crescimento com o vício. Ele ficou cego para si mesmo porque estava com medo de ver que seu propósito, seu presente dado pela vida, era para ser a verdade para ele mesmo. E a única maneira que ele tinha para achar a verdade secreta era quando ele tocava sua música. Ele tocou de leve nas teclas de mármore, fazendo as melodias tomarem vida através de seus dedos. Não importava o quanto sua mão doesse, ele insistia em fazer música. Estava determinado a tocar para Elisabeth e para todos os outros anjos. Com cada fluído que surgia, cada harmonia, cada tonicidade musical, toda a sua dor diminuía um pouco.Com cada nota musical diferente, ele se transformava em outro.Suando profundamente, Mayne sentiu algo ativo atrás dele. Ele tentou ignorar o mais que pôde.Finalmente, ele virou e viu o fogo no quarto. A primeira coisa que ele pensou foi que estivesse tendo uma alucinação, mas o fogo estava queimando mesmo e estava chegando nele. Sua guitarra preferida fora tragada pelo fogo e estava morrendo. Ele queria salvá-la, mas não podia.Ele não queria interromper sua música. Elisabeth estava ouvindo.Toda a vez que seus dedos pressionavam as teclas de mármore do piano Steinway, deixavam-nas vermelhas e sujas. Ele ignorava as manchas vermelhas, deslizando seus dedos por elas. As veias estavam saltadas no seu antebraço, assim como o suor escorria pelo seu rosto. Tudo que ele queria fazer na vida era tocar a sua música e agora ele estava. No momento, ele sentiu-se livre de seus demônios. Ele tomou coragem e começou a tocar “Without you”. O espesso carpete rapidamente se transformou nas paredes do inferno como se uma gigantesca onda de fogo subisse e espalhasse-se ao redor do piano. Ele não poderia se importar menos. As chamas engoliram o apartamento. Mayne nunca gritou e nunca esqueceu uma nota.
Fonte: scribd.com – GNR Devotion Fan Club
Publicado por: Axl Rose – Fã Clube
3 comentários
perfeito esse conto é emocionante
Ótimo post, parabéns!!
A primeira vez que eu li chorei pra caramba :/